sexta-feira, 15 de junho de 2012

José e o príncipe

É interessante como que a moça inspirada nos contos de fadas espera pelo seu príncipe encantado, enquanto que a moça inspirada pelos Evangelhos espera pelo seu José.

Vocês devem conhecer essa expressão, ou pelo menos já ouviram antes, uma moça católica dizer que espera pelo o seu “José”. Esse José é um homem virtuoso ao exemplo do Glorioso São José, esposo de Maria Santíssima, escolhido para ser pai adotivo do Filho de Deus. A moça cristã espera por esse homem justo, honesto, casto e trabalhador.

Vejamos agora algumas comparações:
O príncipe carrega consigo uma espada afiada para enfrentar os terríveis dragões e assim chegar heroicamente à sua princesa. Já o José carrega consigo um ramo
espiritual de lírios brancos, que representa a sua pureza e castidade, é a sua arma contra o pecado, o mais terrível dos dragões. A arma do José é a virtude.

O príncipe encantado tem um fiel companheiro que o leva nas suas jornadas, é o seu cavalo, que na maioria dos contos é de cor branca. O José também tem o seu fiel companheiro, é o seu Anjo da Guarda, este também branco, mas da pureza divina.

A mocinha que sonha com seu príncipe deve ser como uma princesa que espera por ele, que aguarda pacientemente por sua chegada; a moça que espera seu José deve ser como Maria: santa, pura, silenciosa e virtuosa.

Se num conto de fadas a princesa jogou seus cabelos para que o príncipe subisse até ela, a donzela cristã - como filha de Maria que é - deve jogar o seu Rosário para que a oração seja o elo de união entre os dois.
Salve Maria Santíssima!

Texto e desenho por Maria Bastos
Postagem original em Tirinhas da Maria

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quarta-feira, 6 de junho de 2012

A caverna e o martírio branco

"O preço a ser pago pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado,

desconjuntado, esquartejado"; não obstante, aqueles que proclamam a fé com fidelidade nos tempos atuais muitas vezes devem pagar outro preço: ser excluído, ridicularizado."
Papa Bento XVI [1]

Vivemos em nossos dias um outro tipo de martírio, além do martírio de sangue que ainda acontece contra os cristãos em várias partes do mundo como na África e na Ásia, nós vivemos o martírio branco, se não somos perseguidos fisicamente, o somos moralmente. Como bem o Santo Padre enfatizou somos excluídos e ridicularizados por testemunharmos o Evangelho nos ambientes onde vivemos, pelos anti-cristãos no meio secular e pelos lobos disfarçados de cristãos em ambientes religiosos.

Para fazer uma ligação com o título da postagem cito aqui o clássico Mito da Caverna [2], do filósofo Platão – ele é melhor explicado no texto deste link, para o fim desejado nesta reflexão deixo uma explicação mais simples. Nesta alegoria contada pelo filósofo ele diz que havia um grupo de pessoas que viveu acorrentada numa caverna desde sempre. Mas um certo dia ao reparar um fresta de luz que passava por uma fenda um homem deste grupo começou a refletir que poderia haver um mundo do outro lado, ao ir atrás de suas intuições ele consegue se libertar da caverna e conhece o mundo exterior, mas ao voltar a caverna para salvar o restante ele é ridicularizado pelos demais que não queriam acreditar nele, ele era zombado por tentar levar a verdade aos outros.

Vivemos uma junção dessas situações em nossa vida de fé inúmeras. Tivemos a graça de Deus de ter a oportunidade de estudarmos a sã doutrina e por isso queremos viver uma vida de acordo com a verdade do Evangelho, daí somos ridicularizados nos ambiente em que freqüentamos, muitas vezes essa ridicularizarão não é latente, não chega a existir ofensas, mas há a exclusão, a pessoa é isolada do convívio pois ela incomoda, pois o comportamento dela faz com que o grupo se lembre que a verdade existe, e a verdade incomoda.

Outras vezes quando tentamos mostrar essa verdade aos nossos irmãos somos ridicularizados novamente, agora do mesmo modo que o homem que se libertou da caverna queremos alertar aqueles que ainda estão presos nessa vida antiga de mentiras, mas eles fazem chacota conosco de todas as formas, nos chamando de intolerantes, radicais e outras coisas do gênero, infelizmente isso às vezes vem de grupos muitos próximos a nós, como companheiros da vida paroquial, amigos de trabalho e até mesmos de membros da família.

“Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é freqüentemente catalogado como fundamentalismo, ao passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar «ao sabor de qualquer vento de doutrina», aparece como a única atitude à altura dos tempos atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que usa como critério último apenas o próprio «eu» e os seus apetites.” Cardeal Joseph Ratzinger [3]

A batalha é dura, às vezes vem o desanimo, outras vezes vem uma tentação de pensarmos que nascemos na “época errada”, dá a impressão que em épocas passadas onde o povo era mais fiel a Cristo viveríamos melhor. Mas Deus é misericordioso com nossas fraquezas e sempre ilumina nossos caminhos e nos mostra como agir, se Ele quis que nascêssemos nessa época é porque ele tem um propósito, quem sabe nós sofremos esse martírio branco para que como uma semente que precisa ser enterrada para gerar frutos nós seremos uma geração que hoje é pisada e ridicularizada de todos os lados para que no futuro surja um batalhão de soldados que levarão o mundo ao triunfo do Reino de Cristo.
“O sangue dos mártires é semente para novos cristãos”[4], se nosso martírio não é de sangue, pelo menos que tenhamos – com a graça de Deus - a coragem que eles tiveram, que tenhamos esperança pois já está para acontecer o Triunfo do Coração de Maria, como diz o Pe. Paulo Ricardo de Azevedo, “somos nós que batalhamos, mas é Ela quem vence”.[5]

Termino esta reflexão com algumas belas palavras sobre esta batalha diária pelos valores do Evangelho, palavras estas que me serviram de inspiração para escrever esta postagem, a autora [6] fala especificamente sobre a modéstia no vestir, mas estas palavras podem muito bem ser usadas para qualquer situação da nossa vida de fé.

“Cada uma que experimenta viver realmente a santa modéstia no seu dia-a-dia se torna uma controvérsia nos tempos de hoje. Em algum momento podemos até lamentar por não termos nascido na época em que era natural a mulher se vestir decentemente, cobrindo bem o seu corpo. Mas louvemos e bendigamos ao Nosso Senhor por nos ter feito mulheres nos tempos de hoje, pois que sejamos sementes enterradas, pisadas, esquecidas para um dia, futuramente, muitas novas plantinhas surjam vigorosas, germinem e cresçam floridas dando muitos frutos de santa modéstia neste mundo que caminha cada vez mais distante de Deus. Alegremo-nos! Salve Maria Santíssima!”


Que a Virgem Maria, Rainha dos Mártires nos conduza nesses tempos difíceis, que se for pra sermos instrumentos para retirar muitos da caverna da ignorância e levá-los para Cristo, que sejamos com muita honra e valentia.

Tiago Martins da Silva

Referências

[1] Papa Bento XVI - Vigília de oração pela beatificação do Cardeal Henry Newman - Hyde Park, Londres, 18 /09/10
[2] Platão - A República, VII, 518b-d
[3] Cardeal Joseph Ratzinger, Discurso na Abertura do Conclave que o elegeu Papa Bento XVI , 18/04/05
[4] Tertuliano
[5] Palestra “Consagra-te” parte II
[6] Maria Bastos

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Gilbert & Frances: Um conto de fadas “chestertoniano”

Em 1896 Gilbert Keith Chesterton tinha 22 anos de idade, cheio de juventude e talento e desejoso de encontrar o amor. Ele tinha estado na França durante o verão e seus olhos melancolicamente haviam seguido muitas vezes as jovens francesas com seus 'vestidos brancos e boinas vermelhas". Ele se perguntou sobre a misteriosa mulher, que um dia seria sua, expressando seus sentimentos

neste poema:

Sobre aquela que eu ainda não conheci
Me pergunto o que ela está fazendo agora a esta hora do por do sol.
Trabalhando talvez, ou jogando, preocupando-se ou rindo,
Ela estaria fazendo o seu chá, cantando uma canção, escrevendo,
orando ou lendo?
Ela estaria pensativa, como eu estou pensativo?
Ela estaria olhando agora pela janela
Como eu estou olhando pela janela agora?


Foi no outono do mesmo ano que ele conheceu Frances Blogg. Ele havia encontrado sua família anteriormente uma vez, mas Frances não estava neste dia. Ele foi a casa dos Blogg’s uma segunda vez para participar de um debate que estava sendo realizado lá e sentou ao lado de Frances. Ela era uma senhorita pequena e jovem, de olhos azuis e cabelos castanhos e estava vestindo verde.

Para Chesterton, o amor veio da mesma forma que ao seu bom amigo Hilaire Belloc, foi à primeira vista, estava apaixonado por Frances. Suas próprias palavras para expressar as emoções fortes que varreram de repente seu coração são muito bonitas e tocantes:

Se eu tivesse algo em comum com esta garota, iria a ela de joelhos. Se eu falasse com ela sei que não me enganaria. Se eu dependesse dela sei que não me deixaria. Se eu a amasse sei que não me magoaria. Se eu confiasse nela sei que nunca viraria as costas. Se eu lembrasse dela sei que nunca me esqueceria. Talvez eu nunca a veja novamente. Adeus! Foi tudo dito em um flash, mas tudo foi dito.

Quando aconteceu este primeiro encontro Gilbert não era católico, nem cristão, era um idealista socialista ateu. Frances era anglo-católica, e sua forte demonstração de fé era fascinante para Gilbert . Frances fora igualmente atraída por Chesterton: a sua sabedoria, sua sagacidade e sua completa incapacidade de cuidar de si mesmo.

Eles escreveram um ao outro muitas vezes, as cartas de Chesterton a sua amada são verdadeiramente uma leitura maravilhosa. São cheias de humor, amor e pura alegria.

A relação deles durante o namoro foi o que seria durante toda vida. Chesterton a adorava, Frances cuidou dele. Sua praticidade era exatamente o que ele precisava. Para um sujeito que se encontrava em estações de trem sem nenhuma noção de onde estava, ela era perfeita. Ela estava ali para colocá-lo no caminho reto, guiá-lo, protegê-lo e cuidar dele.

No verão de 1898 - quase dois anos após o primeiro encontro - ele a pediu em casamento. Ela aceitou sem hesitação e ele não podia conter sua alegria. Naquela mesma noite, ele escreveu para ela dizendo: "Eu nunca soube o que significava ser feliz antes desta noite."

Mas havia objeções. A mãe de Frances não gostava de Gilbert e mãe de Gilbert não gostava de Frances. A Srª Blogg considerava Gilbert um presunçoso e fez algumas tentativas de o rebaixar.
Gilbert e Frances eram pobres, e não teriam nenhum apoio.

No entanto, ao longo dos anos que se seguiram permaneceram fiéis um ao outro, e em 28 de junho de 1901, se casaram. Quase imediatamente após a cerimônia ele comprou - no típico estilo romântico de Chesterton - um revólver e cartuchos para defender a sua noiva "dos piratas que infestavam Norfolk Broads."

Gilbert e Frances amavam crianças, eles teriam sido pais maravilhosos, eles entendiam as crianças de uma forma única. Apesar de todo o desejo que tinham, uma das cruzes de suas vidas e do casamento era a de que eles nunca foram abençoados com filhos. Eles se tornaram tio Gilbert e tia Frances para muitos jovens que eles conheciam (e devotos jovens se referem a eles como tal até hoje), mas sempre sentiam a dor de não ter filhos.

Chesterton contava com sua esposa para cuidar dele em questões práticas, ele precisava dela, ela era sua força estabilizadora e uma das influências que o levaram ao cristianismo. Quando ele se convenceu da verdade do catolicismo adiou sua recepção oficial na Igreja porque ele não podia suportar deixá-la.

Mas em 1922 ele não poderia mais ficar do lado de fora, o chamado de Deus era mais poderoso até mesmo sua devoção por Frances. Ela não podia segui-lo na Igreja, porque não poderia fazê-lo sinceramente. De certa forma ela queria que ele fizesse isso porque ele tão firmemente acreditava ser isto o correto a se fazer. Ela, pessoalmente, não poderia ser convencida, porém, ele teria que ir sozinho. Ele foi recebido na Igreja em julho de 1922, Frances chorou inconsolável durante toda a cerimônia. Para dar este grande passo independente de Frances era sem dúvida um dos momentos mais heróicos de sua vida.

Na coisa mais importante de sua vida, sua fé, ele estava sozinho. A mulher do qual ele dependia não poderia ajudá-lo.

Se houvesse um dia mais alegre para Chesterton do que o dia da sua própria recepção na Igreja, em 1922, era Dia de Todos os Santos de1926, o dia que sua amada esposa se juntou a ele na fé. Há quatro anos ele estava sozinho, e agora, finalmente, ele a tinha para guiá-lo novamente. Como Joseph Pearce tão lindamente expressa, ela poderia encontrar o lugar no livro de orações para ele, ajudá-lo no seu exame de consciência e em tantas outras formas na sua prática da fé como ela sempre o ajudou em todos os outros aspectos da sua vida .

G.K. Chesterton morreu no dia 14 de junho de 1936. No último dia de sua vida, ele já estava perdendo a consciência, Frances sentou-se ao seu lado e pouco antes de sua morte ele abriu os olhos, sorriu e disse: "Olá, minha querida”. Frances tinha perdido seu Gilbert. Sua tristeza era profunda e ela não poderia ficar separada dele por muito tempo, dois anos depois ela seguiu para seu lar eterno.

A partir daquele outono de 1896, quando ele apaixonou-se sinceramente por aquela jovem mulher, até sua morte, - quarenta anos depois- , o amor de Chesterton por ela nunca diminuiu. Ele expressou-se de forma mais bela neste poema que escreveu quando ambos eram ainda jovens, para sua futura mulher que um dia estaria idosa e com os cabelos grisalhos, mas que ele sempre a continuaria amando:

Um vestido novo e verde eu vi,
Emocionado estava, quando vi seu lindo cabelo castanho;
Em mim surgiu uma estranha oração
Como se sempre meu coração a tivesse amado.

Eu vi a página brilhante da sua juventude,
A mudança do arco-íris de ponta a ponta,
Pude vê-la neste globo terrestre,
Coroado com a coroa de prata da idade.

Seu belo cabelo agora é branco,
Seu rosto querido agora com cores pálidas,
Mas olhando através da máscara e do véu
Vejo a alegria nos seus olhos imortais.


--- G. K. Chesterton

Texto original retirado deste site


Tiago Martins da Silva
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