quarta-feira, 16 de abril de 2014

O Mistério da Cruz


por Dom Fernando Arêas Rifan*
Nem todo dia é santo, nem toda semana. Mas essa é. E única. A Semana Santa. Nela comemoramos os fatos que abalaram e salvaram o mundo: a Paixão, Morte, sepultura e Ressurreição de Jesus Cristo, o seu mistério pascal, esclarecedor dos nossos dramas e enigmas. 

Nesta semana, “manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo: nele encontra plena realização toda a ânsia e anelo do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão diante da ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte... Nele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram esses dois mil anos da nossa história da salvação” (Bento XVI - Porta Fidei). “Na sua morte de cruz, cumpre-se aquele virar-se de Deus contra Si próprio, com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo — o amor na sua forma mais radical. No mistério pascal, realizou-se verdadeiramente a nossa libertação do mal e da morte” (Bento XVI, Sacramentum Charitatis).

“Do paradoxo da Cruz surge a resposta às nossas interrogações mais inquietantes. Cristo sofre por nós: Ele assume sobre si os sofrimentos de todos e redime-os. Cristo sofre conosco, dando-nos a possibilidade de partilhar com Ele os nossos sofrimentos. Juntamente com o de Cristo, o sofrimento humano torna-se meio de salvação. Eis por que o crente pode dizer com São Paulo: ‘Agora alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja’ (Cl 1, 24). O sofrimento, aceite com fé, torna-se a porta para entrar no mistério do sofrimento redentor do Senhor. Um sofrimento que já não priva da paz e da felicidade, porque é iluminado pelo esplendor da ressurreição” (Mensagem Dia mundial do doente 11-2-2004 B. João Paulo II). 

“Ouvimos a Paixão do Senhor. Será bom nos por apenas uma pergunta: Quem sou eu? Quem sou eu, face ao meu Senhor? Sou como Judas, que finge de amar e beija o Mestre para entrega-lo, para traí-lo? Sou eu um traidor? Sou eu como Pilatos? Quando vejo que a situação é difícil, lavo as mãos e não assumo a minha responsabilidade, condenando ou deixando condenar as pessoas? Sou eu como aquela multidão que não sabia bem se estava numa reunião religiosa, num julgamento ou num circo, e escolhe Barrabás? Para ela tanto valia: era mais divertido, para humilhar Jesus. Sou eu como os soldados, que batem no Senhor, cospem-lhe em cima, insultam-no, divertem-se com a humilhação do Senhor? Sou eu como Simão de Cirene que voltava do trabalho, cansado, mas teve a boa vontade de ajudar o Senhor a levar a cruz? Sou eu como aqueles que passavam diante da Cruz e escarneciam de Jesus: ‘Era tão corajoso! Desça da cruz e nós acreditaremos nele!’. Sou eu como aquelas mulheres corajosas e como a Mãe de Jesus, que estavam lá e sofriam em silêncio? Onde está o meu coração? Com qual destas pessoas me pareço? Que esta pergunta nos acompanhe durante toda a semana” (Papa Francisco, Domingo de Homilia do Domingo de Ramos).


quarta-feira, 2 de abril de 2014

Anotações sobre o hino “Ave, Maris Stella”




Por Pe. Gaspar S. C. Pelegrini*

Um dos hinos mais belos a Nossa Senhora na Liturgia é o Ave Maris Stella (Ave, Estrela do mar)

Eis o texto com a tradução:
Ave, Maris Stella, – Dei mater alma, – Atque semper Virgo, – Felix caeli porta.
 Ave, Estrela do mar, Excelsa Mãe de Deus, sempre Virgem, Feliz porta do céu.

Sumens illud Ave, – Gabrielis ore,  - Funda nos in pace  - Mutans Evae nomen. Recebendo aquele Ave, da boca de 
 Gabriel, fundai-nos na paz, mudando o nome de Eva

Solve vincla reis, – Profer lumen caecis, – Mala nostra pelle,
Bona cuncta posce.

Soltai as correntes aos réus, dai luz aos cegos, afastai os nossos males, dai-nos todos os bens.

Monstra te esse Matrem, – Sumat per te preces, – Qui pro nobis natus – Tulit esse tuus.
Mostrai que sois Mãe, que por vós acolha nossas preces, Aquele que aceitou ser Vosso.

Virgo singularis, – Inter omnes mitis, – Nos, culpis solutos, – Mites fac et castos.
Virgem singular, mansa entre todas, libertos das culpas, fazei-nos mansos e castos.

Vitam praesta puram, – Iter para tutum – Ut, videntes Jesum, – Semper collaetemur.
Concedei uma vida pura, preparai um caminho seguro, para que vendo Jesus, sempre nos alegremos.

É um hino muito antigo, considerado do século VIII. Outros o atribuem a S. Bernardo (sec. XII).
Este hino está repleto de figuras e pedidos à Virgem Maria.

Figuras:
A Igreja gosta de usar de figuras para falar de Deus e também para falar de Nossa Senhora.
Aliás, o próprio Deus usa de figuras para se dar a conhecer a nós.
Vejamos então:

Estrela do Mar,
Estrela é do céu, não do mar. Mas é porque ela é vista do mar. Ele serve de referência, ele indica a direção. Para ser guiado por uma estrela em alto mar, é preciso conhecer o céu, as coisas do céu.

Porta do Céu
Sim, pois o céu veio a nós através dela. E nós queremos ir ao céus através dela também. Ela é a porta.

Os pedidos que fazemos a Nossa Senhora:

Funda nos in pace – Fundai-nos na paz
Paz é uma disposição que Deus quer para nós. “Pacem relinquo vobis”, disse Jesus (Eu vou deixo a paz).
Precisamos da paz, mas de uma paz estável. Assim pedimos que ela nos fundamente na paz. Funda nos in pace.

Solve vincla reis – Rompei as correntes do réus.
Correntes: nossas culpas; nossos vícios. Nossos apegos. Corrente é tudo aquilo que nos impede de voar para Deus. Estas coisas tem que ser arrebentadas, rompidas.
Réus: ela age como advogada dos pecadores, pois estamos presos em correntes que nós merecemos.

Profer lumen caecis -  Dai luz aos cegos
Luz que dizer visão; que ela nos faça ver; cegueira é sinônimo aqui de falta de fé, de confiança, dúvida, incerteza, insegurança. Por S. Luís de Montfort nos ensina a rezar assim: “Que a luz de vossa fé dissipe as trevas de meu espírito”.

Mala nostra pelle – Afastai de nós os males
Tirai nossos males, isto é, tudo o que nos é nocivo. Tudo que rouba nossa paz.

Bona cuncta posce –  Concedei-nos todos os bens.
Da alma e do corpo. Nossa perseverança, nossa fidelidade, nossa santificação. Temos que pedir a nossa Senhora para saber voar alto.

Monstra te esse Matrem – Mostrai que sois Mãe.
Pedido ousado! Pedimos que ela se mostre nossa Mãe. Que faça conosco como faz a nossa mãe da terra. Que nos trate com carinho, com amor, com dedicação, pensando sempre em nós. Que ela também se lembre que ela é Mãe de Deus.

Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus – Que por vós acolha nossas preces, Aquele que aceitou ser Vosso.
Que ela faça Jesus receber nossos pedidos.
Tulit = “suportou”, aceitou.

Nos Mites fac et castos. – Fazei-nos mansos e castos.
Mansidão quer dizer paciência, serenidade, tranquilidade. Mansidão interior e exterior.
Castos. Esta é nossa marca, nosso distintivo. É algo que se supõe em cada um de nós. Que nos faça castos, e nos faça encontrar em Deus, no amor de Deus o motivo maior de nossa consagração.

Vitam praesta puram. – Dai uma vida pura
Vida pura quer dizer uma pureza habitual

Iter para tutum. – Preparai-nos um caminho seguro.
Nada de atalhos, nada de despenhadeiros, mas um caminho seguro. Que caminhemos resolutos, com os olhos fitos em Nosso Senhor que nos chama do Sacrário.

Ut, videntes Jesum, Semper collaetemur. – Para eu vendo a Jesus, nos alegremos para sempre.

Esta é a meta final de nossa vida, nosso grande prêmio: visão beatífica.
Ave, Maris Stella!

*Reitor do Seminário da Imaculada Conceição da Administração Apostólica Pessoal S. João Maria Vianney - Campos dos Goytacazes - RJ - Brasil

Fonte: Aqui
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