Do livro “
O Dom de Si” de Pe. Joseph Schrijvers
Se a alma é constante em querer descobrir por um simples olhar a Vontade divina, adquire uma maravilha facilidade para discernir o seu dever. Um instinto secreto adverte-a de que tal ato é agradável a Deus e de que tal outro lhe agrada menos. Este discernimento infuso é privilégio da alma simples.
Deus gosta de lidar com os corações retos: comunica-se com eles de mil formas misteriosas. Em geral, atua neles por impressões ocultas. A alma percebe que Deus gostaria de vê-la entregar-se a esta ou àquela ocupação, ou de que fizesse este ou aquele sacrifício. Sem hesitar, sem inquirir, ela dá-se e executa esse desejo. Deus a conduz assim através de todas as essas ocupações.
Por vezes, chama-a para mais perto de si e, quando ela ouve esse chamado, deixa toda a ocupação que não lhe seja imposta pela obediência e corre para junto do Mestre. Bem sabe que Ele quer falar-lhe mais intimamente nesse dia, confidenciar-lhe os seus segredos divinos, consolar-se junto dela das ingratidões alheias.
A alma não saberia explicar o instinto sobrenatural que a impele; sente apenas a sua influência e sabe que vem de Deus. A sua conduta parece por vezes estranha aos homens pouco esclarecidos, que a consideram imprudente ou mesmo extravagante. Ela, porém, não se importa e prossegue o seu caminho, cuidando, porém, para que as suas ações nunca estejam em contradição com os seus deveres evidentes, com as manifestações claras da Vontade de Deus.
Executa fielmente os seus deveres do seu estado, é obediente às santas regras e aos seus superiores, é prestativa aos seus semelhantes, caridosa e cortês nas suas relações. Fora disso, está sempre atenta à voz interior que a chama e lhe murmura os desejos que vêm do alto. Esta voz é como uma brisa suave que afaga, ao passar, a superfície da alma, e esta, ao sentir a impressão divina, exulta e obedece prontamente.
O mundo divino é repleto de maravilhas. Que mistérios Deus opera na alma submissa à sua ação contínua! Que intimidade perpétua, cheia de efusões. A alma está toda concentrada no seu interior, libertou-se de toda a preocupação com o passado e o futuro; só vive para o momento presente, completamente absorta em Deus, atenta à sua voz, entregue à sua ação.
Se as almas soubessem que só isto é necessário, Deus faria em todas elas coisas maravilhosas. Mas para isso é preciso despedir-se de todo um mundo de pensamentos que povoam o cérebro de desejos, de ambições, de temores sem número, de aspirações e laços que prendem o coração, que o chamam de todos os lados, o esgotam e fazem murchar, inspirando-lhes por vezes tédio pelas coisas de Deus. Para isso, é preciso renunciar a guiar-se pelas sugestões do próprio espírito, depois lançar em Deus todas preocupações, cortando pela raiz todos os resquícios de amor-próprio; numa palavra, esquecer-se e entregar-se a Deus naquele momento.
Que miséria ver tantas almas boas, chamadas à vida útil íntima com Cristo, absorvidas em mil coisas inúteis, preocupadas, tristes, aborrecidas, inquietas, só por não quererem limitar a sua vida ao único momento presente que Deus lhe concede!
Almas simples, que vos importa o futuro que só Deus conhece e que, portanto, só Ele pode cuidar? De que importa o passado que nunca faremos reviver, que Deus esqueceu se foi mau, e que reteve se foi bom? Que vos importam os acontecimentos do presente que respeitam às outras pessoas e não a vós? Que vos importam os homens com as quais vivemos e cujos gestos e palavras não estais encarregados de julgar? Que vos importa o mundo inteiro?
Para vós, existe uma única coisa importante: o momento presente que Deus vos aponta. Santificai-o como puderdes, na medida das graças recebidas de Deus, das forças físicas e morais que Ele vos concedeu e conforme o conhecimento que Dele tiverdes. E depois, ficai em paz: a vossa santidade desde esse momento está atingida.
Senhor, criai em nós esse coração simples e reto. Virgem bendita, fazei-nos participar de Vossa pureza sem mácula, do vosso desprendimento completo. Fazei que só toquemos a terra com as pontas dos pés e que ao primeiro perigo dum contato mau, retomemos o nosso vôo para a Arca Divina! Para o Coração de Jesus!
Retirado de “
O Dom de Si” de Pe. Joseph Schrijvers – Ed. Cléofas/Cultor de Livros, pg. 39/40
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