sexta-feira, 1 de junho de 2012

Gilbert & Frances: Um conto de fadas “chestertoniano”

Em 1896 Gilbert Keith Chesterton tinha 22 anos de idade, cheio de juventude e talento e desejoso de encontrar o amor. Ele tinha estado na França durante o verão e seus olhos melancolicamente haviam seguido muitas vezes as jovens francesas com seus 'vestidos brancos e boinas vermelhas". Ele se perguntou sobre a misteriosa mulher, que um dia seria sua, expressando seus sentimentos

neste poema:

Sobre aquela que eu ainda não conheci
Me pergunto o que ela está fazendo agora a esta hora do por do sol.
Trabalhando talvez, ou jogando, preocupando-se ou rindo,
Ela estaria fazendo o seu chá, cantando uma canção, escrevendo,
orando ou lendo?
Ela estaria pensativa, como eu estou pensativo?
Ela estaria olhando agora pela janela
Como eu estou olhando pela janela agora?


Foi no outono do mesmo ano que ele conheceu Frances Blogg. Ele havia encontrado sua família anteriormente uma vez, mas Frances não estava neste dia. Ele foi a casa dos Blogg’s uma segunda vez para participar de um debate que estava sendo realizado lá e sentou ao lado de Frances. Ela era uma senhorita pequena e jovem, de olhos azuis e cabelos castanhos e estava vestindo verde.

Para Chesterton, o amor veio da mesma forma que ao seu bom amigo Hilaire Belloc, foi à primeira vista, estava apaixonado por Frances. Suas próprias palavras para expressar as emoções fortes que varreram de repente seu coração são muito bonitas e tocantes:

Se eu tivesse algo em comum com esta garota, iria a ela de joelhos. Se eu falasse com ela sei que não me enganaria. Se eu dependesse dela sei que não me deixaria. Se eu a amasse sei que não me magoaria. Se eu confiasse nela sei que nunca viraria as costas. Se eu lembrasse dela sei que nunca me esqueceria. Talvez eu nunca a veja novamente. Adeus! Foi tudo dito em um flash, mas tudo foi dito.

Quando aconteceu este primeiro encontro Gilbert não era católico, nem cristão, era um idealista socialista ateu. Frances era anglo-católica, e sua forte demonstração de fé era fascinante para Gilbert . Frances fora igualmente atraída por Chesterton: a sua sabedoria, sua sagacidade e sua completa incapacidade de cuidar de si mesmo.

Eles escreveram um ao outro muitas vezes, as cartas de Chesterton a sua amada são verdadeiramente uma leitura maravilhosa. São cheias de humor, amor e pura alegria.

A relação deles durante o namoro foi o que seria durante toda vida. Chesterton a adorava, Frances cuidou dele. Sua praticidade era exatamente o que ele precisava. Para um sujeito que se encontrava em estações de trem sem nenhuma noção de onde estava, ela era perfeita. Ela estava ali para colocá-lo no caminho reto, guiá-lo, protegê-lo e cuidar dele.

No verão de 1898 - quase dois anos após o primeiro encontro - ele a pediu em casamento. Ela aceitou sem hesitação e ele não podia conter sua alegria. Naquela mesma noite, ele escreveu para ela dizendo: "Eu nunca soube o que significava ser feliz antes desta noite."

Mas havia objeções. A mãe de Frances não gostava de Gilbert e mãe de Gilbert não gostava de Frances. A Srª Blogg considerava Gilbert um presunçoso e fez algumas tentativas de o rebaixar.
Gilbert e Frances eram pobres, e não teriam nenhum apoio.

No entanto, ao longo dos anos que se seguiram permaneceram fiéis um ao outro, e em 28 de junho de 1901, se casaram. Quase imediatamente após a cerimônia ele comprou - no típico estilo romântico de Chesterton - um revólver e cartuchos para defender a sua noiva "dos piratas que infestavam Norfolk Broads."

Gilbert e Frances amavam crianças, eles teriam sido pais maravilhosos, eles entendiam as crianças de uma forma única. Apesar de todo o desejo que tinham, uma das cruzes de suas vidas e do casamento era a de que eles nunca foram abençoados com filhos. Eles se tornaram tio Gilbert e tia Frances para muitos jovens que eles conheciam (e devotos jovens se referem a eles como tal até hoje), mas sempre sentiam a dor de não ter filhos.

Chesterton contava com sua esposa para cuidar dele em questões práticas, ele precisava dela, ela era sua força estabilizadora e uma das influências que o levaram ao cristianismo. Quando ele se convenceu da verdade do catolicismo adiou sua recepção oficial na Igreja porque ele não podia suportar deixá-la.

Mas em 1922 ele não poderia mais ficar do lado de fora, o chamado de Deus era mais poderoso até mesmo sua devoção por Frances. Ela não podia segui-lo na Igreja, porque não poderia fazê-lo sinceramente. De certa forma ela queria que ele fizesse isso porque ele tão firmemente acreditava ser isto o correto a se fazer. Ela, pessoalmente, não poderia ser convencida, porém, ele teria que ir sozinho. Ele foi recebido na Igreja em julho de 1922, Frances chorou inconsolável durante toda a cerimônia. Para dar este grande passo independente de Frances era sem dúvida um dos momentos mais heróicos de sua vida.

Na coisa mais importante de sua vida, sua fé, ele estava sozinho. A mulher do qual ele dependia não poderia ajudá-lo.

Se houvesse um dia mais alegre para Chesterton do que o dia da sua própria recepção na Igreja, em 1922, era Dia de Todos os Santos de1926, o dia que sua amada esposa se juntou a ele na fé. Há quatro anos ele estava sozinho, e agora, finalmente, ele a tinha para guiá-lo novamente. Como Joseph Pearce tão lindamente expressa, ela poderia encontrar o lugar no livro de orações para ele, ajudá-lo no seu exame de consciência e em tantas outras formas na sua prática da fé como ela sempre o ajudou em todos os outros aspectos da sua vida .

G.K. Chesterton morreu no dia 14 de junho de 1936. No último dia de sua vida, ele já estava perdendo a consciência, Frances sentou-se ao seu lado e pouco antes de sua morte ele abriu os olhos, sorriu e disse: "Olá, minha querida”. Frances tinha perdido seu Gilbert. Sua tristeza era profunda e ela não poderia ficar separada dele por muito tempo, dois anos depois ela seguiu para seu lar eterno.

A partir daquele outono de 1896, quando ele apaixonou-se sinceramente por aquela jovem mulher, até sua morte, - quarenta anos depois- , o amor de Chesterton por ela nunca diminuiu. Ele expressou-se de forma mais bela neste poema que escreveu quando ambos eram ainda jovens, para sua futura mulher que um dia estaria idosa e com os cabelos grisalhos, mas que ele sempre a continuaria amando:

Um vestido novo e verde eu vi,
Emocionado estava, quando vi seu lindo cabelo castanho;
Em mim surgiu uma estranha oração
Como se sempre meu coração a tivesse amado.

Eu vi a página brilhante da sua juventude,
A mudança do arco-íris de ponta a ponta,
Pude vê-la neste globo terrestre,
Coroado com a coroa de prata da idade.

Seu belo cabelo agora é branco,
Seu rosto querido agora com cores pálidas,
Mas olhando através da máscara e do véu
Vejo a alegria nos seus olhos imortais.


--- G. K. Chesterton

Texto original retirado deste site


Tiago Martins da Silva

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