quarta-feira, 6 de junho de 2012

A caverna e o martírio branco

"O preço a ser pago pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado,

desconjuntado, esquartejado"; não obstante, aqueles que proclamam a fé com fidelidade nos tempos atuais muitas vezes devem pagar outro preço: ser excluído, ridicularizado."
Papa Bento XVI [1]

Vivemos em nossos dias um outro tipo de martírio, além do martírio de sangue que ainda acontece contra os cristãos em várias partes do mundo como na África e na Ásia, nós vivemos o martírio branco, se não somos perseguidos fisicamente, o somos moralmente. Como bem o Santo Padre enfatizou somos excluídos e ridicularizados por testemunharmos o Evangelho nos ambientes onde vivemos, pelos anti-cristãos no meio secular e pelos lobos disfarçados de cristãos em ambientes religiosos.

Para fazer uma ligação com o título da postagem cito aqui o clássico Mito da Caverna [2], do filósofo Platão – ele é melhor explicado no texto deste link, para o fim desejado nesta reflexão deixo uma explicação mais simples. Nesta alegoria contada pelo filósofo ele diz que havia um grupo de pessoas que viveu acorrentada numa caverna desde sempre. Mas um certo dia ao reparar um fresta de luz que passava por uma fenda um homem deste grupo começou a refletir que poderia haver um mundo do outro lado, ao ir atrás de suas intuições ele consegue se libertar da caverna e conhece o mundo exterior, mas ao voltar a caverna para salvar o restante ele é ridicularizado pelos demais que não queriam acreditar nele, ele era zombado por tentar levar a verdade aos outros.

Vivemos uma junção dessas situações em nossa vida de fé inúmeras. Tivemos a graça de Deus de ter a oportunidade de estudarmos a sã doutrina e por isso queremos viver uma vida de acordo com a verdade do Evangelho, daí somos ridicularizados nos ambiente em que freqüentamos, muitas vezes essa ridicularizarão não é latente, não chega a existir ofensas, mas há a exclusão, a pessoa é isolada do convívio pois ela incomoda, pois o comportamento dela faz com que o grupo se lembre que a verdade existe, e a verdade incomoda.

Outras vezes quando tentamos mostrar essa verdade aos nossos irmãos somos ridicularizados novamente, agora do mesmo modo que o homem que se libertou da caverna queremos alertar aqueles que ainda estão presos nessa vida antiga de mentiras, mas eles fazem chacota conosco de todas as formas, nos chamando de intolerantes, radicais e outras coisas do gênero, infelizmente isso às vezes vem de grupos muitos próximos a nós, como companheiros da vida paroquial, amigos de trabalho e até mesmos de membros da família.

“Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é freqüentemente catalogado como fundamentalismo, ao passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar «ao sabor de qualquer vento de doutrina», aparece como a única atitude à altura dos tempos atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que usa como critério último apenas o próprio «eu» e os seus apetites.” Cardeal Joseph Ratzinger [3]

A batalha é dura, às vezes vem o desanimo, outras vezes vem uma tentação de pensarmos que nascemos na “época errada”, dá a impressão que em épocas passadas onde o povo era mais fiel a Cristo viveríamos melhor. Mas Deus é misericordioso com nossas fraquezas e sempre ilumina nossos caminhos e nos mostra como agir, se Ele quis que nascêssemos nessa época é porque ele tem um propósito, quem sabe nós sofremos esse martírio branco para que como uma semente que precisa ser enterrada para gerar frutos nós seremos uma geração que hoje é pisada e ridicularizada de todos os lados para que no futuro surja um batalhão de soldados que levarão o mundo ao triunfo do Reino de Cristo.
“O sangue dos mártires é semente para novos cristãos”[4], se nosso martírio não é de sangue, pelo menos que tenhamos – com a graça de Deus - a coragem que eles tiveram, que tenhamos esperança pois já está para acontecer o Triunfo do Coração de Maria, como diz o Pe. Paulo Ricardo de Azevedo, “somos nós que batalhamos, mas é Ela quem vence”.[5]

Termino esta reflexão com algumas belas palavras sobre esta batalha diária pelos valores do Evangelho, palavras estas que me serviram de inspiração para escrever esta postagem, a autora [6] fala especificamente sobre a modéstia no vestir, mas estas palavras podem muito bem ser usadas para qualquer situação da nossa vida de fé.

“Cada uma que experimenta viver realmente a santa modéstia no seu dia-a-dia se torna uma controvérsia nos tempos de hoje. Em algum momento podemos até lamentar por não termos nascido na época em que era natural a mulher se vestir decentemente, cobrindo bem o seu corpo. Mas louvemos e bendigamos ao Nosso Senhor por nos ter feito mulheres nos tempos de hoje, pois que sejamos sementes enterradas, pisadas, esquecidas para um dia, futuramente, muitas novas plantinhas surjam vigorosas, germinem e cresçam floridas dando muitos frutos de santa modéstia neste mundo que caminha cada vez mais distante de Deus. Alegremo-nos! Salve Maria Santíssima!”


Que a Virgem Maria, Rainha dos Mártires nos conduza nesses tempos difíceis, que se for pra sermos instrumentos para retirar muitos da caverna da ignorância e levá-los para Cristo, que sejamos com muita honra e valentia.

Tiago Martins da Silva

Referências

[1] Papa Bento XVI - Vigília de oração pela beatificação do Cardeal Henry Newman - Hyde Park, Londres, 18 /09/10
[2] Platão - A República, VII, 518b-d
[3] Cardeal Joseph Ratzinger, Discurso na Abertura do Conclave que o elegeu Papa Bento XVI , 18/04/05
[4] Tertuliano
[5] Palestra “Consagra-te” parte II
[6] Maria Bastos

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