domingo, 31 de julho de 2011

Vocação Sacerdotal


Como bem sabemos, a Igreja coloca o mês de agosto como propício a reflexões sobre as vocações. Por isso tentaremos expor semanalmente um pouco sobre a vocação sacerdotal e diaconal, matrimonial, religiosa e laical. Nesta primeira semana, voltemos nossos olhares aos sacerdotes.

“Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Malquisedeque ” (Sl 110, 4). O salmista faz este elogio ao Rei Davi. Anos mais tarde, o autor da carta aos Hebreus o usa referindo-se a Cristo (Hb 6, 20). Jesus é o verdadeiro sacerdote, e quer pastores para cuidar de seu rebanho. A Escritura Sagrada não mostra nenhum defeito de Melquisedeque, e o aponta como santo, pois não fala de seu início ou fim, e ainda mostra que era superior a Abraão, uma vez que este lhe paga o dízimo e recebe do sacerdote uma benção.

Deus quer sacerdotes como Melquisedeque: santos. Talvez um dos maiores exemplos de cumprimento desta vontade do Pai seja a vida de São João Maria Vianney, padroeiro dos padres. Nunca é demais recordar um pouco da vida deste homem de fé.

Conta-se que João era um seminarista muito fraquinho nos estudos, ao ponto que o que seus colegas faziam em um ano ele fazia em dois. Quando ordenado, o Bispo resolveu lhe enviar para a menor paróquia de seu território: Ars. Naquele vilarejo podia-se sentir o cheiro do hálito de Satanás. Havia muitos anos não passava por ali um padre; os bordéis estavam sempre cheios e os dias santos não eram mais respeitados. Quando ia para a vila, o padre recém ordenado não sabia o caminho para chegar até lá, viu um menino na estrada e disse: “Menino, mostre-me o caminho de Ars e eu lhe mostrarei o caminho para o Céu”[1]. Ficava horas e horas no confessionário, sempre dando pouca penitência, pois ele mesmo cumpria uma parte. São João Vianney mudou Ars para sempre.

O padre deve cuidar do rebanho do Senhor, como fez o Cura d’Ars [2], contudo, às padres que estão roubando as ovelhas do rebanho que lhe é confiado. Pobres infelizes! Não se parecem nem um pouco com Melquisedeque. São João Vianney dizia que o sacerdote é o amor do Coração de Jesus. Mas como muitos machucam esse Coração Sagrado! A Igreja não vive sem o padre, pois este lhe traz a Eucaristia. Talvez não simpatizemos com um ou outro padre, talvez até encontremos muitos padres que algumas vezes fogem do caminho do Senhor, mas devemos rezar por eles todos, para que permaneçam em comunhão com o Papa.

Antes de maldizer um sacerdote devemos nos lembrar que sua vida é um ato de amor, pois ele deixa tudo; família, posses, lazer para a nossa salvação. Para muitos não é fácil o celibato, que se faz extremamente necessário por uma questão pastoral, mas se aderem a ele é porque amam muito mais a Cristo. Louvado seja o Senhor pelos sacerdotes!

João Carlos Resende

[1] A foto ao lado representa essa cena.

[2] O motivo de São João M. Vianney também ser chamado por esse nome vem de que a palavra “Cura” significa pároco em francês.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A nuvem do Monte Carmelo


No primeiro livro dos Reis, no Antigo Testamento, mais precisamente no capítulo 18, podemos ler a narração de um episódio singular para a mariologia. A terra habitada pelo Povo de Deus passava por uma terrível seca; três anos sem chuva.

A fome devastava a nação, e muitos se dispersaram e começaram a adorar o deus, Baal. Então Elias propõe aos 450 profetas desse deus um desafio no Monte Carmelo (1 Rs 18, 19-40). Elias sai vitorioso, mas a seca continua. Elias pede a seu servo que suba ao topo do Monte na esperança de avistar alguma nuvem, mas seu servo sobe e não vê nada. Elias então ordena que ele suba mais sete vezes, e na sétima subida ele avista uma nuvem do tamanho da mão de uma pessoa, que vem subindo do mar.

Esse episódio tem sim uma profunda importância na mariologia. A Ordem Carmelita viu nessa nuvem uma prefiguração da Virgem Maria. Aquela nuvem fora formada de águas oceânicas, salgadas. Bem sabemos da impossibilidade de algum ser humano viver consumindo tal água. O país se encontrava perdido, o povo estava desorientado sem água. Mas aquela nuvenzinha pequenininha lhes trouxe a salvação. Aquela nuvenzinha saciou a sede do povo e dos animais e irrigou as plantações.

Com Maria também foi assim, uma menina que tivera sua Conceição Imaculada nascera de um mundo contaminado pelo pecado, esse mundo estava também sedento de Deus e aspirava pelo Reino dos Céus. Essa menina humilde, insignificante aos olhos dos homens da época, deu ao mundo o Salvador, que tal como a chuva trouxe vida nova para o povo. Assim como a nuvem, Maria é sinal de esperança; é prova de que Deus faz uso das coisas pequenas e insignificantes aos nossos olhos para promover o bem. E a Senhora do Carmo ainda hoje continua a derramar uma torrencial chuva de graças a aqueles que usam piedosamente seu escapulário.

Elias foi privilegiado, pois, profeta que era, certamente entendeu, ao ver a abundante chuva, que Deus viria ao mundo através de uma pequenina. E é por isso que a multidão dos anjos entoa para a Senhora do Carmo nos Céus: “Você é a glória de Jerusalém! Você é a honra de Israel! Você é o orgulho de nossa gente!” (Jd 15, 9).

Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!

João Carlos Resende

terça-feira, 12 de julho de 2011

O martírio dos nossos tempos




Quando Pedro, Paulo, João, Tiago e os outros apóstolos começaram a pregar o Evangelho do Senhor em regiões distantes de Israel, certamente não achavam que sua missão seria tão difícil. Fome, frio, abismos, discussões e cansaço não faltavam. Tudo era muito difícil, e tão difícil que Marcos até chegou a desistir de sua missão certa vez (cf. At 13, 13), mas depois voltou atrás e se tornou um dos evangelistas. Enfim, dificuldades não faltavam a eles.
Mas assim como não faltavam dificuldades aos discípulos de Cristo, em seu peito também não faltava um sentimento fortíssimo pelo Mestre; um amor que inflamava em seus corações inexplicavelmente.

O próprio Paulo, que nem conhecera Jesus antes de sua morte, escreveu uma das declarações de amor mais lindas da história da humanidade (Rm 8, 31-39).
Nesta declaração, Paulo afirma que nem a morte apagaria o amor que ele e seus companheiros sentiam por Deus. E Paulo falava a mais pura verdade; basta olhar a quantidade de cristãos que foram perseguidos, torturados e assassinados por professarem sua fé em uma sociedade infectada por um paganismo descomunal. Alguns foram queimados vivos, outros foram jogados as feras, outros decapitados, outros lançados ao mar. Houve assassinato de toda maneira; desde que seu sangue escorresse qualquer morte valeria a pena para aqueles pagãos.

Mas os tempos passaram: o Império Romano caiu, o paganismo quase que acabou e houve uma considerável redução no número de martírios. Uma sociedade construída sobre os valores cristãos se ergueu no Ocidente impulsionado pelos trabalhos dos monges, e o homem aprendeu que Deus deveria ser o centro das coisas. Mas esses tempos também passaram: veio a Revolução Francesa, que dissipou ódio ao clero, ao sagrado e a verdade. O relativismo e o secularismo crescem, nada mais é sagrado, e a verdade não mais existe, pelo menos não aquela que dói. O paganismo volta à cena, e com ele o martírio.

Mas hoje não vivemos apenas aquele martírio que expulsava a alma do corpo da pessoa. Hoje o martírio mais comum é aquele que faz a pessoa morrer por dentro, que devasta o coração daqueles que amam o sagrado e a verdade, um martírio que tenta esconder as feras e as espadas. Tomara que tenhamos a força dos mártires dos primeiros séculos para enfrentar esse mal. Não é fácil, mas quem tem em mente que Cristo é por nós, vencerá.

João Carlos Resende

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O secularismo nos templos barrocos


Certo dia, fui a uma cidade histórica, próxima de onde moro aqui em Minas Gerais, e passando em frente a uma igreja quase tricentenária resolvi entrar para orar um pouco. Dignidade não faltava no templo barroco: retábulos por toda parte, um grande painel da Virgem Maria desenhado no teto da nave central e no do presbitério muito ouro. Realmente, o povo da época se preocupava com a dignidade do edifício.

Encantado com a beleza da igreja, ao entrar, atravessei o corredor central, fiz a genuflexão em direção ao sacrário e ajoelhei em um banco para começar minhas orações. Confesso que muito me distraí durante minhas orações devido a todos aqueles detalhes, mas minha distração se fazia oração perante tanta beleza. Estava em êxtase profundo, era como se estivesse livre de todos os males; uma sensação inexplicável. Porém, qual não foi minha surpresa, quando já quase terminando minhas orações olho para o sacrário e percebo que o conopeu estava puxado e sua portinha aberta. Então fiquei muito intrigado com aquilo, e resolvi perguntar ao zelador que estava de plantão o motivo da Sagrada Eucaristia não estar sendo conservada no sacrário, sua resposta me provocou grande assombro.

Segundo o zelador o pároco teve que tomar a triste decisão de conservar o Santíssimo em sua capelinha, pois muitos turistas freqüentavam a igreja. Mas que problema tem nisso, perguntei. Ele disse que muitas pessoas vêem o edifício não como um templo católico, mas como um museu; entram com roupas decotadas, mascando chicletes e até com chapéus. Fotografam tudo: das imagens históricas, do teto, das paredes, do altar e até do piso, mas esquecem de que Deus está presente na Sagrada Eucaristia e esta é a Sua Casa.

Infelizmente isso acontece na grande maioria das igrejas barrocas mineiras. É uma situação horrível, pois vemos acontecendo aos nossos olhos e nada podemos fazer. Aí vemos até que ponto chegou o secularismo, o Demônio é astuto; tenta usar até o que serve para engrandecer o nome de Deus para nos fazer cair.

Talvez por isso muitas pessoas construam verdadeiros salões em extrema pobreza de dignidade e chamam de igreja nos dias atuais. Mas estão errados, pois Deus merece muito mais que isso. A nós cabe orar e pedir a Santíssima Virgem que nos mostre tudo aquilo que sempre foi sagrado, pois como disse o nosso querido Papa Bento XVI, “aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós” [1].

[1] Motu Proprio “Summorum Pontificum"

João Carlos Resende
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