quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O que é a morte? por Joseph Ratzinger



Joseph Ratzinger

O que vem a ser isto, a morte? E o que acontece quando alguém morre, quando o destino da morte o leva? Todos nós temos de admitir certo embaraço diante dessas perguntas. Ninguém sabe ao certo o que é, porque nós todos vivemos do lado de cá da morte, de modo que não conhecemos a experiência da morte. Mas talvez seja possível tentar uma aproximação partindo outra vez da exclamação de Jesus na cruz, - "Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste"? Mc 15,34 -, na qual encontramos a essência daquilo que quer dizer descida de Jesus e participação na morte do ser humano.



Nessa última oração de Jesus manifesta-se, como já aconteceu durante a cena no horto das oliveiras, não uma dor física e sim a solidão radical, o abandono total, que é a essência mais profunda de sua Paixão. É a manifestação do abismo de solidão humana em geral, do ser humano que em seu íntimo está sozinho. Essa solidão, que costuma ser encoberta de várias maneiras, é a verdadeira situação do ser humano e assinala, ao mesmo tempo, a sua grade contradição, por que ele não pode ficar só, ele precisa do ser dos outros a seu lado. Por isso, a solidão é o âmbito do medo que nasce da sensação de abandono de um ser que precisa ser, mas que é expulso para o impossível.

Vamos tentar entender melhor o que foi dito, recorrendo a um exemplo concreto. Se uma criança tiver de atravessar uma floresta durante uma noite escura sentirá medo, por mais que se tenha explicado a ela que não há o que temer. No momento em que ela estiver sozinha na escuridão, vivenciando com toda a intensidade a sensação de solidão, surgirá o medo, não medo de alguma coisa, mas o medo em si, o medo inerente à condição humana. O medo de uma coisa determinada é, no fundo, um medo inócuo que pode ser anulado pela retirada do respectivo objeto que é a causa do medo. Se alguém tem medo, por exemplo, de um cachorro bravo, é fácil resolver o caso, prendendo o cachorro a uma corrente. Estamos falando de um fenômeno muito mais profundo: quando o ser humano chega a uma solidão extrema, ele passa a sentir um medo que não se refere a um objeto determinado que poderia ser eliminado, mas o medo da solidão, o pavor e o abandono do próprio ser, e este não pode ser superado por uma ato racional.

Vejamos mais um exemplo: se alguém tiver de ficar sozinho com um morto durante a noite, sentirá certamente algum tipo de assombro, mesmo que não queira admiti-lo e tente convencer-se racionalmente que não há motivo para sentir medo. Ele sabe muito bem que o morto não lhe pode fazer mal algum e que poderia estar até numa situação muito mais perigosa se a pessoa estivesse viva. Nessas circunstâncias, levanta-se um tipo de medo que não é medo diante de alguma coisa e sim o assombro da solidão em si, a sensação de um abandono existencial que o assalta na solidão com o morto.

E como é que esse medo pode ser superado quando a prova de sua inocuidade cai no vazio? A criança perderá o seu medo no momento em que uma mão se oferecer para guiá-la e uma voz que fala com ela, no momento, portanto, em que a criança viver a experiência da presença de um ser humano amoroso. Mesmo aquele que estiver em companhia de um morto deixará de sentir um assombro de medo quando houver alguém junto dele, de modo que sinta a proximidade de um tu. Na superação do medo se revela a sua natureza mais intrínseca, ou seja, o medo da solidão, que é o medo de um ser que só pode viver junto dos outros. O medo essencial do ser humano não pode ser superado pelos argumentos da razão e sim pela presença de alguém que ama.

Devemos aprofundar ainda mais a nossa pergunta. Se existisse uma solidão em que nenhuma palavra de um outro pudesse penetrar para transformá-la; se houvesse uma sensação de abandono tão profundo que nenhum tu seria capaz de chegar até ele, então estaríamos diante da solidão e do assombro verdadeiro e total, aquilo que a teologia chama de "inferno". A partir dessa situação podemos definir exatamente o significado desse termo: ele designa uma solidão em que o amor já não penetra e que representa, por si mesmo, o abandono propriamente da existência. Quem não se lembraria nesse contexto dos poetas e filósofos de nosso tempo, para os quais qualquer encontro entre os seres humanos é sempre apenas superficial, de modo que ninguém seria capaz de alcançar o íntimo real do outro; todo encontro, por mais bonito que pareça, serviria apenas para anestesiar a ferida incurável da solidão. No mais profundo de nosso ser moraria, portanto, o inferno, o desespero - a solidão tão inelutável quanto terrível.

É sabido que Sartre construiu a sua antropologia justamente sobre essa idéia. E até mesmo um poeta aparentemente tão conciliatório e sereno como Hermann Hesse não esconde, no fundo, uma percepção semelhante:

"Como é estranho caminhar na neblina"
Viver é solidão.
Ninguém conhece o outro,
Estamos todos sós!"

Realmente, existe, com certeza, uma noite em cuja solidão nenhuma se faz ouvir; existe uma porta pela qual podemos passar solitários: a hora da morte. Todo medo do mundo é, em última análise, o medo dessa solidão. É nessa linha de pensamento que se deve procurar a explicação porque o Antigo Testamento só usa uma palavra para falar de inferno e da morte, a palavra sheol: para ele, ambos são fundamentalmente idênticos. A morte é a solidão por excelência. E a solidão em que o amor não conhece penetrar é o inferno.

Voltamos, assim, ao nosso ponto de partida, ao artigo da fé que fala da descida os infernos. Podemos dizer, então, que Jesus atravessou a porta de nossa solidão extrema quando, na sua Paixão, afundou no abismo de nossa sensação de abandono. Onde já não se faz ouvir nenhuma voz, lá está Ele. Com isso, o inferno está vencido, ou melhor: a morte, morte que antes era o inferno, não existe mais. Morte e inferno deixaram de ser a mesma coisa, porque em meio à morte passou a existir vida, porque agora o amor mora em seu meio.

O único inferno que continua existindo é o fechamento voluntário de si próprio ou, como diz a Bíblia, a segunda morte (ver p. ex. Ap 20,14). A morte, porém, já não é o caminho para a solidão gélida, pois as portas do sheol estão abertas. Penso que é possível entender nessa perspectiva também as imagens dos Padres da Igreja que, à primeira vista, parecem tão mitológicas, a saber, as imagens que falam em buscar os mortos nas profundezas e em abrir os portões; torna-se compreensível até mesmo o texto aparentemente tão tímido do evangelho de Mateus em que se lê que os túmulos de muitos santos já falecidos ressuscitaram (Mt 27,52). A porta da morte está escancarada desde que a vida, o amor, passou a habitar na morte...

Joseph Ratzinger* - Papa Emérito Bento XVI - em Introdução ao Cristianismo - p. 220, 221, 222

*Este texto foi escrito por Joseph Ratzinger antes de sua ordenação episcopal.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Lágrimas de Maria





Quisera eu, enxugar Tuas lágrimas
Consolar o Teu Coração Imaculado
De espinhos cercado
Que os meus pecados cravaram em Ti

Quisera eu, as Tuas dores amenizar
Compreender Teu silêncio e guardar
Tudo em meu coração

Mas a minha ingratidão me afastou de Vós
Longe estou de ser exemplo fiel de Ti

Se eu pudesse ficar
Junto a Ti aos pés da Cruz
E Contigo até o fim
Adorar Jesus
Teu doce Jesus, Teu Menino Deus

Se eu pudesse Te abraçar
Em Teu colo descansar
E encerrar meus olhos nesse Teu olhar
Tocar o Teu santo manto
Sob o véu me guardar


Não chores mais
Eis-me aqui ó Mãe
De tudo farei para agradar-te
Desagravar-te e consolar o Teu Coração
Aqui prostrado aos Vossos pés
Eu Te ofereço meu sacrifício, minha oração
E Vos prometo amar e honrar
Como minha Mãe
E eu Vos peço que alcance de Deus
Para mim o perdão
E seja para sempre o Teu Coração...

O meu refúgio
O caminho que me levará a Deus
Que eu espero
Contemplar eternamente lá no Céu

Ó Virgem Maria, Ó minha Senhora e minha Mãe!


(Homenagem a Nossa Senhora decorrente à visita da Imagem Milagrosa de Fátima, que verteu lágrimas em Nova Orleans no dia 17/07/1972 - Canção composta em 17/07/2011)

Fonte: Clique aqui

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