Por Pe. Jean Viollet*
Se quisermos ajudar a juventude a
evitar as surpresas oriundas da ignorância, é preciso fazer-lhe conhecer
a psicologia própria do homem e da mulher.
Não pretendemos afirmar que os sexos
sejam essencialmente diferentes um do outro. O homem e a mulher assemelham-se
estranhamente, nesse sentido que ambos são dotados de inteligência, vontade e
liberdade, possuem um e outro uma consciência moral, e seria falsear sua
natureza atribuir, por exemplo, a sensibilidade e a inteligência intuitiva
unicamente ao sexo feminino e a força física e inteligência discursiva
unicamente ao masculino. Existem mulheres fisicamente mais fortes que o homem
e, por outro lado, há elementos masculinos cuja sensibilidade é mais aguçada
que da mulher. Todavia, no conjunto, cada um dos sexos define-se por qualidades
específicas e os dotes de um são complementares aos do outro.
O homem demonstra ordinariamente maior
força muscular do que a mulher. Eis porque é mais facilmente empreendedor e
audacioso: é por natureza combativo, estimulado pelos obstáculos. Assim sendo,
é constituído para comandar, com risco de abusar do poder para dominar e impor
sua vontade. Ressaltam-se, de pronto, os excessos decorrentes dessas
disposições naturais. É o egoísmo brutal, o orgulho, o esquecimento ou o desprezo
dos direitos do próximo, principalmente dos da mulher.
O abuso é tanto mais fácil que a mulher
amorosa curva-se docilmente às exigências daquele que ama. Isto não significa
que a mulher seja o ser fraco, incapaz de se dirigir e defender, como comprazeram-se
a pintá-la os antifeministas**. Diariamente dá provas de força de caráter, e se é
muscularmente mais fraca do que o homem, mostra-se muitas vezes mais resistente
e capaz de suportar a fadiga e o sofrimento da existência. Porem, porque vive
mais pelo coração, recebe mais facilmente as influências e considera os
acontecimentos através de sua repercussão sobre os sentimentos.
Quando um homem não tem a animá-lo um
verdadeiro ideal e elevada generosidade, a mulher torna-se uma presa fácil para
seu egoísmo. Sabemos como são freqüentes os abusos da autoridade masculina em
certos meios. Sob pretexto de que é o mestre, impõe suas vontades sem
preocupação das regras morais. O número de mulheres literalmente exploradas
pelo egoísmo do marido é muito maior do que se pensa. À mulher cabem todos os
trabalhos, as responsabilidades, e de um modo geral os piores encargos pesam
sobre ela. Que não possa dispor durante todo o dia de um só momento para si não
é pensamento que preocupe o marido, e quando a vê doente, esgotada, mostra-se
surpreendido, sem contudo considerar-se responsável.
E todavia a força só foi dada ao homem
para que seja protetor da mulher, para manter o moral da família e ajudar a
cada um dos membros na prática do bem. Longe de alardear seu poder, o homem
deve aprender a refrear as exigências de seu egoísmo a partilhar com a mulher
das preocupações da vida familiar e, até mesmo, de certos serviços domésticos,
quando necessário.
A mulher, sendo a guarda do lar,
orienta, naturalmente, sua inteligência para as questões que interessam a vida
familiar. Mas daí pode resultar uma tentação, a de se enclausurar no circulo
dos serviços rotineiros, que a levariam a abandonar certos deveres inerentes à
vida social da família e a de se deixar absorver pelas preocupações de cada dia
ao ponto de descuidar dos interesses gerais. Por amor dos seus, ela se arrisca
ou a mimar demais os filhos ou a aceitar passivamente as idéias do marido,
quiçá contrárias à moral. Talvez porque sua inteligência seja mais intuitiva do
que dedutiva, a mulher rege pelo silêncio aos argumentos do marido que ama.
Muitas jovens, ansiosas por se formarem uma personalidade antes do casamento,
uma vez casadas, ficam como que inibidas e, por assim dizer, fundidas na
personalidade mesmo insignificante do marido.
Daí resulta, para o homem, uma tentação
de abuso à qual sucumbirá frequentemente. Se estiver cônscio de suas
responsabilidades, longe de se aproveitar dessa disposição de espírito,
protegerá a mulher, em vez de explorar em benefício próprio a fraqueza
feminina, ajudará sua companheira e, sendo preciso, conduzi-la-á a manter e
desenvolver uma personalidade moral.
No decorrer da vida cotidiana, a mulher
geralmente demonstra menos atividade e iniciativa do que o homem, mas possui
maior resistência e energia; é mais perseverante, fiel e paciente naquilo que
empreende. Eis porque, quando esclarecida e dotada de vontade, triunfa mais do
que o homem na educação dos filhos, auxiliado, como é, pela sua intuição das
tendências e dos caracteres, pela paciência e tenacidade. Assim sendo, sua
influência torna-se mais penetrante e, muitas vezes, mais duradoura que a do
pai. O homem contenta-se frequentemente em governar o filho; a mãe conquista-lhe
a confiança, influenciando mais profundamente sua alma. Portanto o homem deve
vigiar e nunca diminuir a autoridade da mãe, como tantas vezes o faz por ciúme.
Seu dever é apoiá-la na sua obra de educadora.
Se existe um fato surpreendente, é o
homem não ter ainda compreendido que sua natureza, menos sensível do que a da
mulher, obriga-o a um domínio especial sobre as tentações sexuais, cujo
resultado seria conferir-lhe uma responsabilidade particular diante das regras
da moral e da castidade conjugal. O homem deveria estar sempre apto a vencer,
para nunca exigir uma união que só poderia ser satisfeita ao preço de uma falta
ou desonestidade. Mais senhor de sua sensibilidade, compete-lhe ser bastante
forte para resistir, ao mesmo tempo, às suas próprias tentações e às da mulher,
mais confusas, porém talvez, por isto mesmo, mais perigosas. Se o homem se
considera mais tentado do que a mulher, não é tanto por questão de natureza,
como pela consagração de um abuso. Persuadiu-se de que sua força física explica
e justifica todas as exigências sexuais, ao passo que esta lhe impõe um dever
especial de domínio próprio e proteção à natureza feminina, mais propensa à
confiança e ao abandono.
É fácil tirar conclusões dessas
observações. A primeira revela-nos que o homem só compreenderá a natureza
feminina na medida em que, sendo o senhor de seus instintos, tiver influência
sobre o coração da esposa, lhe der prova de que é capaz de dominar seus
sentidos e, finalmente, amá-la pelas suas qualidades e não unicamente pelos
prazeres que ela lhe proporciona. A segunda, é que comete um abuso de
autoridade toda vez que se serve de sua força para exigir da mulher a
satisfação de desejos contrários à moral. Infelizmente, são freqüentes os casos
em que o homem exerce sobre a companheira uma verdadeira tirania sexual. Muitos
lares conheceriam menos desacordos íntimos, se a força masculina fosse colocada
ao serviço de um maior domínio próprio.
A educação dos filhos só é possível
pelo acordo dos pais. Eles têm igual autoridade, embora esta se exerça por
meios diferentes. O homem, mais senhor de sua sensibilidade, talvez consiga,
melhor do que a mulher, despertar no filho o sentimento de justiça. Porém o
carinho feminino saberá suscitar mais profundamente os sentimentos do coração.
Para essa obra difícil, que deve ser complementar e não contraditória, Deus dá
a cada um qualidades específicas que se combinam, graças ao amor comum que
ambos dedicam ao filho. A aplicação das sanções, mais particularmente da alçada
do pai, exige um grande controle; a educação do coração supõe o exercício
habitual do carinho materno.
Mais amorosa que o homem e naturalmente
mais fiel, a mulher dispõe de graça e encanto destinados a salvaguardar o
marido das tentações externas. Faltando-lhe estes atrativos, multiplicam-se as
tentações para o homem, e muitas vezes, porque sua esposa não mais procura
agradá-lo, o marido vem a desertar o lar conjugal.
A graça feminina pode, por outro lado,
aliás, tornar-se um perigo. Se a mulher pretende tirar daí motivo de vaidade,
despertará olhares indiscretos e cairá facilmente na futilidade. Ainda que um
marido mal orientado encontrasse nos sucessos da esposa motivo de amor-próprio,
seria em detrimento da intimidade e união dos corações.
Embora a natureza do homem seja mais
fria que a da mulher, é preciso não se concluir logo que ele seja
necessariamente egoísta. Há manifestações femininas de carinho que nascem de um
violento desejo de satisfação pessoal. Se o homem deve ser bastante psicólogo
para dar à esposa as provas de carinho de que ela necessita, a mulher deve
esforçar-se por penetrar no pensamento do marido a fim de compreendê-lo.
A inteligência do homem é mais
positiva, calculadora, objetiva. A da mulher mais espontânea e intuitiva. Cabe a
esses dois valores entenderem-se mutuamente para melhor se ajudarem. Se a
inteligência feminina é mais intuitiva é porque inclina-se espontaneamente para
o amor do qual é, por natureza, a guardiã. A mulher descobre, quase sem
raciocínio, os sentimentos que podem favorecer o amor ou prejudicá-lo. Seu modo
de compreender não é inferior ao do homem, é diferente. As funções e
responsabilidades são outras. Alguns filósofos julgam que a inteligência
intuitiva é superior à discursiva.
Dessas diferenças intelectuais podem,
facilmente, surgir incompreensões. O homem é tentado a julgar-se superior à
mulher, e esta inclinada a crer que o homem não sabe amar. Um pouco de boa
vontade e esforços mútuos para se compreenderem fariam facilmente desaparecer
essas pretensas oposições. Seria preciso, ainda, que a mulher se deixasse
penetrar pela razão positiva do homem, e que este procurasse entender as
intuições da natureza feminina. Estas, de ordem sentimental, impedirão, muitas
vezes, o homem de cometer atos que muitas vezes fechariam seu coração às
exigências da piedade e da bondade; a ponderada razão masculina ajudará a
mulher a verificar a objetividade de seus sentimentos.
O espírito feminino é tentado a
confundir o amor com as emoções da sensibilidade. A mulher julga que deixou de
amar, quando não mais as sentir. É uma tentação perigosa contra a qual deverá
precaver-se.
O homem, menos sensível, acredita,
facilmente, que lhe basta cumprir seu dever de proteção e ser fiel à mulher
para lhe testemunhar seu amor. Esquece muito depressa que a sensibilidade
feminina é uma flor delicada que é preciso cultivar sempre.
A boa compreensão entre o homem e a
mulher é um compromisso perpétuo. Se a esposa pretende acompanhar o marido sob
pretexto de que tem necessidade de sua presença constante, logo o cansará. Por
pouco que exerça sobre ele seu domínio, sua tirânica afeição privará o marido
de toda iniciativa e atividade pessoal. Se o marido for dotado de uma
personalidade vigorosa, abandonará facilmente a mulher e dela se desapegará.
Se, por outro lado, se mostrar indiferente e distraído, não se dando ao
trabalho de dedicar-lhe uma parte de seu tempo, se não souber entendê-la para
compreendê-la, provocará insensivelmente na esposa um sentimento de solidão que
pode, então, em tristeza e em tristes separações. Assim a diversidade das
naturezas explica-se pela diversidade dos encargos. Seria vão e odioso procurar
definir a superioridade do homem e da mulher. Com efeito, não é possível
decidir qual das duas funções, a de proteger ou a de manter a união dos
corações, é a mais sublime.
*em “A educação do
pudor e do sentimento, Jean Viollet, pp.150-3”
** Como livro foi escrito em 1925 o termo "antifeminista" provavelmente não teria o mesmo emprego que usamos hoje, que é o da sadia luta contra o feminismo, movimento este que deturpa a verdadeira essência feminina, creio que o sentido do termo usado pelo autor nesta época se referia a ações que depreciavam as mulheres. Nota do administrador deste blog.
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