terça-feira, 25 de março de 2014

O soldado convertido por Nossa Senhora



Há uma sequência de cenas no filme A Paixão de Cristo onde podemos ver belamente o início da conversão de um soldado após assistir o sofrimento de Nossa Senhora junto ao seu Filho no caminho para o Calvário, e nesta postagem tentaremos elencar as cenas junto com uma reflexão a respeito sobre como toda conversão começa através da intercessão de Nossa Senhora.

Como se sabe, o diretor Mel Gibson baseou-se muito nas revelações particulares feitas a Beata Anna Catarina Emmerich [1] para montar as cenas do filme, no qual foram reveladas a ela realidades da Paixão de Nosso Senhor, digo que li apenas alguns pequenos trechos dos relatos dela, e não sabemos – mesmo que por revelação particular - se esta sequência aconteceu realmente, mas creio que ela foi pelo menos pensada pelo diretor do filme para que tivesse esse efeito.

Então, é uma sequência de 3 cenas cheias de significado, e envolve o encontro de Nossa Senhora e um soldado romano, que no filme é chamado no pelo nome de Cassius, e que vemos no fim ser aquele que perfurará com uma lança o lado de Nosso Senhor, e se converterá depois de ver jorrar sangue e água do corpo de Cristo, no filme não há a pronúncia dos tais dizeres mas ligando a cena aos relatos das Sagradas Escrituras sabemos que é aquele soldado que diz: “Verdadeiramente este Homem era Filho de Deus” (cf. Mt 27,54). Nos relatos da Beata Anna Catarina Emmerich ele é chamado de Cassius,  mas a tradição costumou-o chamar de Longino ou Longinus (Nome derivado do grego “longche” que significa "uma lança"), daí derivou-se que seu nome chegasse até nós na sua “versão portuguesa” como São Longuinho. [2]

Prosseguindo, o primeiro encontro entre o soldado Cassius e Nossa Senhora se dá durante a Via Dolorosa de Nosso Senhor, (vamos chamá-lo aqui de Cassius para um melhor entendimento), Nossa Senhora encontra Jesus e depois de um curto tempo juntos os soldados vêm e os separam e fazem com que Jesus siga o caminho, então Cassius olha de um modo estupefato e muito assustado para aquela cena, e em seguida pergunta a outro soldado:
-- Quem é Ela? O soldado responde:
-- É a Mãe do Galileu.
A cena prossegue e o olhar estupefato de Cassius continua, como se lêssemos aquela pergunta ressoando em sua mente: -- Quem é Ela? Quem é Esta Mulher?



Não há como não pensar na passagem dos Cânticos dos Cânticos que sempre é atribuída profeticamente a Nossa Senhora: “Quem é Esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha...?” (Ct 6,10), num instante o soldado que pertencia ao exército mais poderoso do mundo se vê pequeno e fraco perto da magnitude daquela cena, do amor tão grande daquela Mãe pelo Filho, e do Filho pela Mãe, e deve ter começado a se perguntar? “O que há de tão grande neste Galileu? Quem é Este?”

As cenas se desenrolam e há um novo encontro, agora já aos pés da Cruz, Nossa Senhora acompanhada de São João e Santa Maria Madalena se aproximam de Nosso Senhor, é o momento onde Jesus deixaria Nossa Senhora como Mãe de todos nós na pessoa de São João, e parece que Cassius tem a função de guardar o local para que ninguém se aproximasse da Cruz. Então os 3 se aproximam e Cassius entra na frente, como que para impedir, mas visivelmente com o corpo estremecido, com um olhar confuso, e por dentro com o coração já tocado pela piedade de ver a dor e o amor de Mãe e Filho, deixa-os passar... E deve ter-se perguntado: Quem é Esta que tem força para ficar de pé vendo tamanha dor de um filho? Quem é Este Homem?”



O terceiro encontro com Nossa Senhora é novamente aos pés da Cruz, tudo já está consumado, Nosso Senhor está morto, e logo em seguida acontece um terremoto e os soldados romanos correm assustados e sem rumo, começam a quebrar as pernas dos outros crucificados para morram mais rápido, é entregue um pedaço de madeira a Cassius para que quebre as pernas de Jesus, ele olha para Nossa Senhora antes, e não tem coragem de fazê-lo, e dá um grande grito: “Mortus est...” Está morto!! O seu oficial superior então lhe entrega uma lança e diz:
--“Certifique-se!!”

Cassius olha novamente para Nossa Senhora, tremendo, quase desiste, mas o faz, insere a lança no corpo de Nosso Senhor. Então jorra sangue e água do Corpo de Jesus e Cassius caiu de joelhos, neste momento nasce para a fé...

Provavelmente ele já tinha ouvido falar de um tal profeta da Galiléia que fazia milagres, arrebanhava multidões de discípulos e que se dizia o Filho de Deus, e mesmo sendo pagão deve ter ficado admirado com isto tudo, ainda mais quando se viu ajudando a conduzir tal Galileu ao Calvário, ao ver sua Mãe Santíssima o acompanhando, quantas vezes deve ter se perguntado: “Quem é verdadeiramente Este Homem?” E neste momento, ao jorrar do sangue e da água sua pergunta tem resposta, e vinda de dentro, uma profissão de fé: “Verdadeiramente, este Homem era o Filho de Deus!” 



No fim vemos Cassius entre aqueles que ajudam a descer Nosso Senhor da Cruz e colocá-lo nos braços de sua Mãe, ali já o vemos como um discípulo, pois ser discípulo é retribuir o amor com o qual Deus nos ama, mesmo de que maneira infinitamente menor, nos arrependendo de nossos erros, com contrição, pois eles ferem Nosso Senhor, nos retificando e buscando dar o máximo de nossas forças por Deus a cada momento, e foi esta a ação de Cassius naquela hora, arrependido de suas ofensas fez o que podia e devia naquele momento, ele quis participar da Cruz, e assim devemos ser todos nós.

O que podemos perceber nesta reflexão é que sabemos que a conversão é um caminho para toda a vida, todos os dias, a luta pela conversão deve ser diária, mas há aqueles momentos especiais na vida onde Deus nos chama a passos maiores, toda conversão é um chamado divino que nós devemos responder, pois Deus quer a nossa felicidade, a felicidade neste mundo que é sofrer com paciência os revezes e esperar somente a Paz que vem de Nosso Senhor, e a felicidade eterna ao lado Dele na Glória, e Deus usa vários meios para isto, para nos chamar e levar-nos até Ele, e o mais belo, eficaz e santo é o caminho que passa por sua Mãe Santíssima, como dizia São Bernardo [3] “Ela é a Raptora de Corações”, toda conversão começa com Ela e tem o seu fim em Nosso Senhor, e foi o que vimos no desenrolar dessas cenas, o soldado que se admirou da magnanimidade de Nossa Senhora terminou professando a fé na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Este filme dispensa recomendações, mas aconselho depois desta leitura a assisti-lo novamente, e agora com um olhar mais atento a estes detalhes descritos acima, e vê-lo com o espírito de oração, e com certeza Nosso Senhor nos inspirará a que vejamos ainda mais belos detalhes neste filme.

Suplicamos a Nossa Mãe Santíssima, a Raptora de Corações, que sempre nos dê a força para perseverar em nossa vida de fé, na nossa conversão diária, que nos dê esperança no nosso caminhar, e principalmente um amor cada vez maior a Nosso Senhor Jesus.

Tiago Martins

Referências:

[1] Saiba mais sobre a história da Beata Anna Catarina Emmerich acessando estes links:Anna Catharina Emmerich, que teve a vida unida a Jesus Eucaristia, beatificada.”

Relatos da Paixão por Beata Anna Catarina Emmerich


[2] Leia mais a respeito acessando este link: São Longuinho

[3] Citado por Dom Jean-Baptiste Chautard em “A Alma de Todo Apostolado. Leia mais a respeito acessando este link: “O Apóstolo deve ter uma intensa devoção a Nossa Senhora.”

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