Há
uma sequência de cenas no filme A Paixão
de Cristo onde podemos ver belamente o início da conversão de um soldado
após assistir o sofrimento de Nossa Senhora junto ao seu Filho no caminho para
o Calvário, e nesta postagem tentaremos elencar as cenas junto com uma reflexão
a respeito sobre como toda conversão começa através da intercessão de Nossa
Senhora.
Como
se sabe, o diretor Mel Gibson baseou-se muito nas revelações particulares feitas a Beata
Anna Catarina Emmerich [1] para
montar as cenas do filme, no qual foram reveladas a ela realidades da Paixão de
Nosso Senhor, digo que li apenas alguns pequenos trechos dos relatos dela,
e não sabemos – mesmo que por revelação particular - se esta sequência
aconteceu realmente, mas creio que ela foi pelo menos pensada pelo diretor do
filme para que tivesse esse efeito.
Então,
é uma sequência de 3 cenas cheias de significado, e envolve o encontro de Nossa
Senhora e um soldado romano, que no filme é chamado no pelo nome de Cassius, e que vemos no fim ser aquele
que perfurará com uma lança o lado de Nosso Senhor, e se converterá depois de
ver jorrar sangue e água do corpo de Cristo, no filme não há a pronúncia dos
tais dizeres mas ligando a cena aos relatos das Sagradas Escrituras sabemos que
é aquele soldado que diz: “Verdadeiramente
este Homem era Filho de Deus” (cf.
Mt 27,54). Nos
relatos da Beata Anna Catarina Emmerich ele é chamado de Cassius, mas a tradição costumou-o chamar de Longino ou Longinus (Nome derivado
do grego “longche” que significa "uma lança"),
daí derivou-se que seu nome chegasse até nós na sua “versão portuguesa” como
São Longuinho. [2]
Prosseguindo,
o primeiro encontro entre o soldado Cassius e Nossa Senhora se dá durante a Via
Dolorosa de Nosso Senhor, (vamos chamá-lo aqui de Cassius para um melhor
entendimento), Nossa Senhora encontra Jesus e depois de um curto tempo juntos
os soldados vêm e os separam e fazem com que Jesus siga o caminho, então
Cassius olha de um modo estupefato e muito assustado para aquela cena, e em
seguida pergunta a outro soldado:
-- Quem é Ela? O
soldado responde:
-- É a Mãe do Galileu.
A
cena prossegue e o olhar estupefato de Cassius continua, como se lêssemos aquela
pergunta ressoando em sua mente: -- Quem
é Ela? Quem é Esta Mulher?
Não
há como não pensar na passagem dos Cânticos dos Cânticos que sempre é atribuída
profeticamente a Nossa Senhora: “Quem é Esta que surge
como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército
em ordem de batalha...?” (Ct
6,10), num instante o soldado que pertencia ao exército mais poderoso do
mundo se vê pequeno e fraco perto da magnitude daquela cena, do amor tão grande
daquela Mãe pelo Filho, e do Filho pela Mãe, e deve ter começado a se perguntar? “O que há de tão grande neste Galileu? Quem é Este?”
As
cenas se desenrolam e há um novo encontro, agora já aos pés da Cruz, Nossa
Senhora acompanhada de São João e Santa Maria Madalena se aproximam de Nosso
Senhor, é o momento onde Jesus deixaria Nossa Senhora como Mãe de todos nós na
pessoa de São João, e parece que Cassius tem a função de guardar o local para
que ninguém se aproximasse da Cruz. Então os 3 se aproximam e Cassius entra na
frente, como que para impedir, mas visivelmente com o corpo estremecido, com um
olhar confuso, e por dentro com o coração já tocado pela piedade de ver a dor e
o amor de Mãe e Filho, deixa-os passar... E deve ter-se perguntado: “Quem
é Esta que tem força para ficar de pé vendo tamanha dor de um filho? Quem é Este Homem?”
O
terceiro encontro com Nossa Senhora é novamente aos pés da Cruz, tudo já está
consumado, Nosso Senhor está morto, e logo em seguida acontece um terremoto e
os soldados romanos correm assustados e sem rumo, começam a quebrar as
pernas dos outros crucificados para morram mais rápido, é entregue um pedaço de
madeira a Cassius para que quebre as pernas de Jesus, ele olha para Nossa
Senhora antes, e não tem coragem de fazê-lo, e dá um grande grito: “Mortus est...” Está morto!! O seu
oficial superior então lhe entrega uma lança e diz:
--“Certifique-se!!”
Cassius
olha novamente para Nossa Senhora, tremendo, quase desiste, mas o faz, insere a
lança no corpo de Nosso Senhor. Então jorra sangue e água do Corpo de Jesus e
Cassius caiu de joelhos, neste momento nasce para a fé...
Provavelmente
ele já tinha ouvido falar de um tal profeta da Galiléia que fazia milagres,
arrebanhava multidões de discípulos e que se dizia o Filho de Deus, e mesmo
sendo pagão deve ter ficado admirado com isto tudo, ainda mais quando se viu
ajudando a conduzir tal Galileu ao Calvário, ao ver sua Mãe Santíssima o
acompanhando, quantas vezes deve ter se perguntado: “Quem é verdadeiramente Este Homem?” E neste momento, ao jorrar do
sangue e da água sua pergunta tem resposta, e vinda de dentro, uma profissão de
fé: “Verdadeiramente, este Homem era o
Filho de Deus!”
No
fim vemos Cassius entre aqueles que ajudam a descer Nosso Senhor da Cruz e
colocá-lo nos braços de sua Mãe, ali já o vemos como um discípulo, pois ser
discípulo é retribuir o amor com o qual Deus nos ama, mesmo de que maneira
infinitamente menor, nos arrependendo de nossos erros, com contrição, pois
eles ferem Nosso Senhor, nos retificando e buscando dar o máximo de nossas
forças por Deus a cada momento, e foi esta a ação de Cassius naquela hora,
arrependido de suas ofensas fez o que podia e devia naquele momento, ele quis
participar da Cruz, e assim devemos ser todos nós.
O
que podemos perceber nesta reflexão é que sabemos que a conversão é um caminho
para toda a vida, todos os dias, a luta pela conversão deve ser diária, mas há
aqueles momentos especiais na vida onde Deus nos chama a passos maiores, toda
conversão é um chamado divino que nós devemos responder, pois Deus quer
a nossa felicidade, a felicidade neste mundo que é sofrer com paciência os
revezes e esperar somente a Paz que vem de Nosso Senhor, e a felicidade eterna
ao lado Dele na Glória, e Deus usa vários meios para isto, para nos chamar e
levar-nos até Ele, e o mais belo, eficaz e santo é o caminho que passa por sua
Mãe Santíssima, como dizia São Bernardo [3] “Ela é a Raptora de Corações”, toda conversão começa com Ela e tem o
seu fim em Nosso Senhor, e foi o que vimos no desenrolar dessas cenas, o
soldado que se admirou da magnanimidade de Nossa Senhora terminou professando a
fé na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Este
filme dispensa recomendações, mas aconselho depois desta leitura a assisti-lo novamente, e agora com um olhar mais atento a estes detalhes descritos
acima, e vê-lo com o espírito de oração, e com certeza Nosso Senhor nos
inspirará a que vejamos ainda mais belos detalhes neste filme.
Suplicamos
a Nossa Mãe Santíssima, a Raptora de Corações, que sempre nos dê a força para
perseverar em nossa vida de fé, na nossa conversão diária, que nos dê esperança
no nosso caminhar, e principalmente um amor cada vez maior a Nosso Senhor
Jesus.
Tiago
Martins
Referências:
[1] Saiba mais sobre a história da Beata Anna Catarina Emmerich acessando estes links: “Anna Catharina Emmerich, que teve a vida unida a Jesus Eucaristia, beatificada.”
Relatos da Paixão por Beata Anna Catarina Emmerich
[2]
Leia mais a respeito acessando este link: São Longuinho
[3]
Citado por Dom Jean-Baptiste Chautard em “A Alma
de Todo Apostolado”.
Leia mais a respeito acessando este link: “O
Apóstolo deve ter uma intensa devoção a Nossa Senhora.”
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