quinta-feira, 9 de maio de 2013

Como encontrar a pessoa certa – 2ª Parte


por Pe. Thomas Morrow

Luzes Vermelhas e sinais de alarme
Ele/ela tem algum vício importante, como consumir drogas ou traficar com elas, ser um alcoólatra recuperado ou um jogador compulsivo? Qualquer desses vícios deveria fazer com que se acendesse imediatamente uma luz vermelha. Casar-se com uma pessoa assim equivale a um convite ao desastre. Se você costuma sentir-se atraído por este tipo de gente, peça ajuda imediatamente!
            Um dia, veio consultar-me uma jovem cujo namorado consumia e até vendia drogas. Disse-lhe: -- “Livre-se dele hoje mesmo! É um problema!”
            -- “Mas eu o amo!”, insistia ela.
            -- “O amor não vencerá o hábito da droga. Não faça de si uma infeliz por anos em troca de um sentimento momentâneo”.
            Outra jovem perguntou-me se devia continuar o seu namoro: -- “Ele reza o terço e costuma ir à Missa durante a semana, mas, bem, tenta praticar comigo uma relação sexual pervertida”.  
-- “Fuja para os montes”, disse-lhe. “Esse rapaz é um tremendo hipócrita”. (Precisava mesmo de que eu lhe dissesse isso?!).
            Outro perigo: ele/ela tem uns acessos de cólera intempestivos? A cólera é um veneno para o matrimônio. Se algum dos futuros cônjuges se mostra irritado durante grande parte do tempo, deve resolver essa falha antes do casamento, com uma terapia adequada.
            Um homem contou-me que certa vez a sua esposa se tinha aborrecido com ele e passara duas semanas sem falar-lhe. Um comportamento verdadeiramente infantil! Quando você se aborrece com a pessoa amada, precisa de algum tempo para acalmar-se, mas depois deve ser capaz de falar. Usar o silêncio como arma é um completo disparate.
            À pessoa que diz: -- “Mas eu posso mudá-lo (ou mudá-la)”, digo-lhe; - “Opte pela vida de convento, porque aí poderá reformar as pessoas sem ter que viver com elas”... Um reformador – dizia Gandhi – não pode permitir-se ter uma grande intimidade com a pessoa que se propõe reformar.

Não ter impedimentos para contrair matrimônio
            Outro aspecto em que se deve ser muito cuidadoso é o de ter certeza de que a pessoa está livre para contrair matrimônio. Se você descobre que essa pessoa esteve casada, a primeira coisa que tem que fazer é perguntar-lhe se já obteve a sentença de nulidade. Se o casamento anterior se deu à margem da Igreja, sendo ambos católicos – ou algum deles --, esse casamento não foi válido: conseguir a declaração de nulidade é pouco mais que uma formalidade. Mas se foi celebrado na presença de um sacerdote, na Igreja, é necessária uma sentença de nulidade antes de se contrair um novo. [1]
            Que acontece se você pergunta à pessoa pela sentença de nulidade e a resposta é que não a tem? Recomendo-lhe que diga simplesmente: -- “Se você conseguir a sentença de nulidade, peço-lhe que me avise e, nesse caso, se quiser, poderemos reatar nossa relação”. Acontece que há pessoas que não pretendem conseguir a declaração de nulidade, mas desejam manter o namoro. Essas pessoas não deveriam namorar ninguém.
            Há casos em que não se trata de namorar, mas de saírem juntos, sem a intenção de contrair um novo casamento. A uma mulher que saía com um divorciado havia anos, sendo ambos católicos, perguntei-lhe se ele pensava na nulidade, e disse-me que não. Pedi-lhe que insistisse com ele para que o fizesse, mas ela tinha medo. Quando a vi uns anos depois, perguntei-lhe se tinham conseguido a sentença de nulidade. A resposta continuou a ser não. Disse-lhe: -- “Essa pessoa nunca se casará com você”. Recebeu mal o meu comentário, mas o caso não oferecia dúvidas. Tratava-se de um homem que aparentemente a amava, mas não queria casar-se com ela. É claro que nunca se casaram.
            Lembre-se também de que nem todos os que solicitam a declaração de nulidade a obtêm. Não está garantida. É pouco aconselhável comprometer-se com alguém que se limitou a solicitá-la. Espere até que a tenha em mãos antes de iniciar o namoro.
            Há pessoas divorciadas cujo cônjuge anterior se portou mal, não elas. Mas há outras que são responsáveis pelo seu divórcio, ainda que jamais o admitam. Você deve ser extremamente cauteloso e estudar bem o caráter da pessoa divorciada. Não basta a opinião dela, que costuma estar carregada de subjetivismo. Já a declaração de nulidade é mais objetiva e também por isso convém esperar pela respectiva sentença. Evite, portanto, envolver-se romanticamente com alguém que ainda não a conseguiu. Sem ela, não há relação: é uma boa regra a seguir. Os que são amavelmente firmes neste sentido evitam problemas e perdas de tempo.

Relações ora quentes, ora frias
Dão mau fruto as relações ora quentes, ora frias, quer dizer, maravilhosas um dia e no dia seguinte péssimas. Há pessoas tão agarradas ao sentimento do amor que são incapazes de romper com a relação, ainda que o parceiro seja um canalha: -- “Não posso viver com ele, mas também não consigo viver sem ele (ou ela)”. Se os seus sentimentos são esses, deve encontrar o modo de pôr fim a essa relação. É uma armadilha.
            Uma moça vinha saindo com um homem que tinha tudo para ser considerado um mau companheiro. Fazia-a chorar continuamente, manipulava-a e tinham umas discussões tremendas. Ela rompia com ele uma vez e outra, mas acabava por reatar a relação. Perguntei-lhe se tinha algum passatempo na sua vida.
            -- “Só o Martinho”, respondeu-me
            -- “Não me estranha que não consiga romper com ele – disse-lhe --. Depois de umas semanas você fica entediada e telefona-lhe. Tem de sair e fazer algo entretido pelo menos uma vez por semana”.
            -- “Mas eu trabalho o tempo todo”.
            -- “Poderia procurar outro trabalho”, sugeri.
            Assim o fez. E pouco tempo depois rompeu com o Martinho.


Casar-se com quem vai ser sua melhor amiga
            A pessoa com quem você se case deve ser a sua melhor amiga. Isto é fundamental. Após uns anos de casados, a beleza física desaparece, mas a amizade perdura. A amizade baseia-se em compartilhar valores e pontos de vista. Será que vocês compartilham as mesmas crenças religiosas, os mesmos critérios morais, alguns interesses recreativos e intelectuais, pela arte, pela leitura, etc.? É possível aprender a compartilhar os interesses do outro em alguns aspectos, mas convém partir de uma boa base desde o princípio.
            Há alguns anos, os amigos de uns noivos duvidavam que este casamento durasse. No entanto, as coisas foram melhorando de ano para ano. Um amigo perguntou-lhes qual era o segredo. O marido atribuía-o aos presentes de aniversário. Antes de casar-se, tinha sido um entusiasta da fotografia, mas abandonara o hobby ao ver o desinteresse da esposa. No primeiro aniversário de casamento, ela o presenteou com uma câmera. Tiraram juntos algumas fotografias e depois revelaram. Ela sussurrou-lhe: “Este é o meu presente de aniversário, querido”. Tinha estudado fotografia sem que ele soubesse.
            No ano seguinte, ele matriculou-se numas aulas de dança, e, enquanto dançavam uma valsa em comemoração da data do casamento, disse à esposa: “Este é o meu presente de aniversário, querida”. Desde então, cada ano faziam presentes parecidos um ao outro, consolidando cada vez mais a amizade. E também o casamento.

A química tem a sua importância
            -- “Horácio é perfeito em todos os sentidos, mas depois de dois anos de namoro noto que nos falta “química”. Se você pensa assim, as perspectivas de que venham a casar-se não são boas. Não é preciso que sinta arroubos ou formigamentos sempre que vê a pessoa, mas deveria sentir-se atraído, e não frio.
            Por outro lado, será que é importante estar tão enamorado que lhe custe muito separar-se por uns dias ou uns quilômetros? Não demasiado. E não é sintoma de que falte “química”.
            Aliás, se na vida passada você esteve enamorado (a) de alguém mais intensamente, não quer dizer que a pessoa a quem ama agora não seja adequada. Não é necessário que sinta um arrebatamento sublime cada vez que a encontra. Sem dúvida, o amor passional tem sido exaltado na nossa cultura, especialmente através dos filmes, mas não é o único que importa. No entanto, quando existe uma autêntica atração pela outra pessoa, isso ajuda.

É verdade que a aparência é importante?
            Que acontece com as mulheres deslumbrantes ou com os homens elegantes? As mulheres vistosas correm o risco de não dar valor a um relacionamento honesto e decente. E um homem elegante, se for demasiado consciente disso, enfrenta um forte risco de cair na vaidade. Será modesto, capaz de passar despercebido? (A humildade é um ingrediente indispensável para crescer na vida cristã). Ou é arrogante e procura chamar a atenção. Os homens discretos costumam ser bons maridos e bons pais.

A independência em relação aos pais
            Há anos, um casal de namorados veio pedir-me conselho sobre sua relação. Ela tinha seis anos mais que ele e isso os preocupava. Assegurei-lhes que a diferença de idade não era um obstáculo em si mesmo. O verdadeiro problema estava nos pais do rapaz, que não queriam ver falar do casamento do filho com uma mulher mais velha. Além disso, ele também temia ser rejeitado pelos pais dela. Disse-lhe que tinha de armar-se de coragem para dizer cortesmente aos pais que agradecia a preocupação pelo seu futuro, mas que era quem tinha que tomar as decisões. Se o rejeitassem por isso, estariam no seu direito, mas que ele esperava que não o fizessem, porque ia dar o passo que achava certo.

[1] Um não-católico pode conseguir a sentença de nulidade na Igreja Católica se ela/ele quiser casar-se com um (a) católico (a).


Pe. Thomas Morrow – “Namoro Cristão em um mundo supersexualizado” – Ed. Quadrante, São Paulo-SP
Transcrição: Blog Mater Dei

Leia a primeira parte deste artigo clicando neste link: “Como encontrar a pessoa certa”

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