quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A banalização do amor carnal (Eros)


Qualquer lingüista recomenda que ao escrever o texto a preocupação final seja o título. Contudo resolvi desrespeitar tal regra gramatical desta vez, pois gostaria de começar minha reflexão sobre a desmoralização do amor carnal - o eros - na atualidade a partir de uma comparação entre duas canções que alcançaram um grande sucesso em suas épocas.


A primeira música que proponho para uma breve análise é “A namorada que sonhei”, de autoria do mineiro Nilton César, gravada no auge da Jovem Guarda na década de 70. A música começa com uma oferta generosa de rosas feita pelo eu lírico, que garante que a moça em questão seria a namorada que sonhara por toda a vida, que nada mais pediria a Deus desde que este amor fosse eterno. O mais interessante é o que vem depois, o autor expressa que no futuro se casados ele ainda faria ofertas de rosas, pois seriam eternos namorados.


A outra música em questão é “Ai se eu te pego”, que causa grande explosão de sucesso nos dias atuais na voz de Michel Teló, ao ponto de eu não conseguir descobrir quem foi que a gravou originalmente, mas talvez seja ele mesmo. Nesta composição o autor todo momento deixa claro que seu desejo seria “pegar” a mais linda moça que passara na balada (um ambiente que creio que seja muito favorável para se encontrar um verdadeiro amor, não é?), visto que seria ela uma “delícia”, provavelmente por ter um corpo bonito, pois ela estava matando-o de libido. Na canção a palavra amor e seus derivados são simplesmente ignorados.


Vejamos a que ponto chegou a banalização do amor carnal, o eros. Enquanto em 1970 a canção em destaque falava até mesmo de um amor eterno, com todo respeito, agora em 2011, o tema desta que fica por conta da beleza física da mulher. Ora, sei que a beleza pode ser um fator importante em uma realização, pois é maravilha do poder de Deus, mas não é tudo. A beleza fundamental, como qualquer criança pura sabe muito bem, é a interior, a que há no coração.


Em 2005 o Papa Bento XVI fez uma exposição muito interessante na Encíclica Deus Caritas Est sobre a principal conseqüência desta marginalização desenfreada do eros na atualidade: “o modo de exaltar o corpo, a que assistimos hoje, é enganador. O eros degradado a puro ‘sexo’ torna-se mercadoria, torna-se simplesmente uma ‘coisa’ que se pode comprar e vender; antes, o próprio homem torna-se mercadoria.” [1] É verdade mesmo. Os relacionamentos atuais parecem casos entre homens e prostitutas ou mulheres e gigolôs.


Agora façamos outra brevíssima reflexão: qual música explodiu com mais impacto no cenário de sua realidade? Com certeza aquela que exalta esse amor ao corpo, e não a que o mostra que o verdadeiro amor é aquele que ama a pessoa integralmente.


Em um site de letras de músicas há mais de 200000 acessos na página de “Ai se eu te pego”, enquanto a canção de Nilton César recebeu 23000 acessos desde a sua criação, isso há uns 5 anos no mínimo. Qualquer criança hoje sabe cantar a música do Michel Teló, enquanto a outra é lembrada apenas por namorados “retrógrados”.


Mas é bom deixar claro que esse mal não é exclusivo deste ou daquele artista, pois é uma tendência da atualidade; é um dos resultados do modernismo já condenado pelo grande São Pio X.


Não é minha intenção usar este espaço para influenciar qualquer pessoa que seja a ir contra alguém. Jamais quis isto. Minha intenção, assim como de todos os que ouvem a voz de Sua Santidade Bento XVI é condenar mais um atentado contra o Matrimônio, sacramento tão desvalorizado hoje em dia.


Mais uma vez Bento XVI deixa evidentes indícios de que é um grande candidato a se tornar Doutor da Igreja um dia. Ele salienta que para haver uma relação verdadeiramente amorosa entre duas pessoas é preciso entender que “nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é o homem, a pessoa, que ama como criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma. Somente quando ambos se fundem verdadeiramente numa unidade, é que o homem se torna plenamente ele próprio. Só deste modo é que o amor (o eros) pode amadurecer até à sua verdadeira grandeza.” [2]


Creio que após esta pequena análise fica mais fácil entender o motivo de haver tantos divórcios, tantas traições e tantas insatisfações entre os casais. Creio que falta às pessoas entenderem que o corpo bonito daquele com quem você escolheu viver amanhã pode estar todo acabado, e que um relacionamento só pode dar certo se haver amor, um amor que não olha as aparências, mas sim a alma.


“Uma relação amorosa é uma coisa muito séria. Não é a toa que um dos símbolos do amor é uma chama de combustão, pois com fogo não se brinca,assim como com o amor. Quem se arrisca irresponsavelmente sofre sérios danos.” [3]


João Carlos Resende


[1] Encíclica "Deus Caritas Est", I parte, parágrafo 5.


[2] Idem.


[3] Dom Frei Célio de Oliveira Goulart, homilia da Santa Missa de Crisma em Resende Costa-MG. 22/10/2011.

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