terça-feira, 26 de março de 2013

Entendendo o amor - 4ª Parte

por Pe. Thomas Morrow

Transcrição: Blog Mater Dei

Afeto (storgé)
            O afeto é designado às vezes como amor familiar, porque surge geralmente entre os membros da família. Mas também é da maior importância durante o namoro. É o carinho terno e delicado por alguém.
            O afeto entre um homem e uma mulher manifesta-se de muitos modos: um abraço, um leve beijo nos lábios [*], no rosto ou na testa; um sorriso carinhoso; um breve toque no braço, na mão ou no cabelo. Parece que o afeto saudável, desinteressado e casto, está em falta no nosso ambiente supersexualizado. Muitos perderam a arte do carinho.
            Todos temos necessidade de afeto, de um olhar carinhoso, de uma palavra cálida. É o carinho que existe entre pai e filho, entre uma mulher e o seu marido, entre uma moça e sua melhor amiga. Um gesto afetuoso no lugar adequado, no momento oportuno, é um belo modo de comunicar o amor, ás vezes o único.
            Anos atrás, Ann Landers fez uma pesquisa entre as suas leitoras casadas, perguntaram-lhes se preferiam ser acariciadas a ter relações sexuais. Cerca de 70% disseram preferir as carícias. Não acho que fosse por não gostarem de praticar sexo, mas por haver muito tempo que ninguém as abraçava.
            Muitas mulheres casadas costumam dizer que tudo o que os maridos querem é ter relações sexuais. Quando lhes pergunto se fizeram sexo antes do casamento, a inevitável resposta é “sim”. Essa é a raiz do problema. São casais que nunca desenvolveram o costume de compartilhar o carinho juntos. Quando um homem se deitou com a esposa antes do casamento, costuma considerar os beijos e as carícias como uma mera introdução ao ato sexual. As mulheres devem fazer com que o marido compreenda a importância do carinho. Marido e mulher devem ser capazes de acariciar-se, de abraçar-se, de beijar e ser beijados sem que seja o prelúdio de um ato sexual. O carinho é uma linguagem importante do amor, uma linguagem que se deve aprender bem durante o namoro.    
            Quando se fala de castidade num contexto religioso, é freqüente que mal se mencionem as manifestações de afeto. É por isso que os jovens estão confusos, e com toda razão, sobre o que é aceitável e o que não é. Costumamos falar do que não se deve fazer, sem propor o que o que se deve fazer.
            
Um jovem de uns trinta anos procurou-me depois de um dos nossos seminários sobre “O namoro cristão num mundo supersexualizado” e perguntou-me: “- Muito bem, como deveria então despedir-me da minha namorada?”
            Respondi-lhe: “Bem, você poderia passar a mão pelo seu rosto, aproximar-se dela muito devagar e beijá-la suavemente. Uma vez. Duas. Depois, dar-lhe um grande abraço, lento, apertando a sua face contra a dela como modo de manifestar os seus ternos sentimentos por ela. A seguir, talvez possa dizer algo como: < Por fim, desejar-lhe uma boa noite e beijá-la mais uma vez, lenta e carinhosamente, como se temesse quebrá-la se não tomar cuidado”.
-- “É, não parece má idéia, padre”. Ele respondeu.
Existe carinho mais romântico que o de um beijo de despedida ou de saudação? De modo algum. Se um rapaz e uma moça já saem há algum tempo, ele, quando chega para levá-la a passeio, deveria dar-lhe um abraço e um beijo breve, mas terno, na face. Enquanto caminham, deveria beijar-lhe a mão de vez em quando, tocar-lhe o rosto ou a mão em algum momento. Algumas vezes, deveria passar-lhe o braço por cima do ombro ou acariciar-lhe o cabelo. Os abraços pausados, carinhosos, são atos que simbolizam poderosamente a união.
A moça deveria ser capaz de mostrar também ao rapaz o seu carinho, especialmente se ele lhe deu motivos para confiar no seu amor por ela. Poderia apoiar a cabeça no ombro dele enquanto vêem um filme, ou tocar-lhe suavemente a mão, ou beijá-lo carinhosamente na face. Outra possibilidade, quando passeiam juntos, seria tomar-lhe a mão pô-la ao redor de sua cintura, inclinando-se ligeiramente para ele.
Este deveria ser o limite das expressões físicas de amor no namoro. Imagine como seria saudável, espiritual e psicologicamente, se fosse esta a norma nos modos de manifestar o carinho.
Lembre-se: manifestar o afeto aos poucos costuma ser o modo de dar, respeitar e servir a pessoa amada. Apressar-se ou acariciar com maior intensidade costuma ser sinal de desejo, de autocomplacência e de egoísmo.

Liberdade na moderação
            Pois bem, para alguns isto supões um grande retrocesso. Mas é o único caminho realmente sadio. O problema está em que no nosso mundo ocidental adotamos uma atitude hedonista com relação ao prazer: “Se para mim é agradável, devo empanturrar-me disto.” Atualmente, quando alguma coisa nos dá prazer, tendemos a possuía-la até fartar-nos. Se gostamos de esquiar, convertemo-nos em esquiadores compulsivos. Se gostamos de tênis, viciamo-nos no tênis. Se nos dá prazer beijar, acabamos em deitar-nos juntos.
            Não é esse o caminho cristão. A proposta cristã sobre o prazer consiste em desfrutar dele durante o momento e depois esquecê-lo, gozar de algo sem nos aferrarmos a isso. Dito de outro modo, não desejar coisa ou pessoa alguma (a não ser o próprio Deus), a ponto de não podermos ser felizes sem ela. São Francisco encontrava-se com Santa Clara somente uma vez por ano: alegrava-se tanto com essa amizade que não queria que a sua felicidade dependesse dela.
            É uma bênção desfrutar dos pequenos prazeres da vida vendo neles um vislumbre da felicidade do Céu, sem ser escravo deles, mesmo em pequena medida. Ou seja, o autêntico cristão pode saborear pequenos prazeres na comida, na bebida ou num beijo de despedida, sem insistir em receber mais. Não é este mundo que alcançamos a nossa plenitude, mas no que há de vir. [1]
            Qualquer que seja o ponto em que você coloque o patamar de sua satisfação – um abraço, um beijo ardente e casto, uma relação sexual -, ficará sempre insatisfeito. Por que? Porque os nossos desejos são infinitos e, se procurarmos realizá-los por meio de coisas finitas, nunca chegarão a satisfazer-nos. Quanto mais cedermos aos nossos apetites – por comidas exóticas, por licores ou por sexo -, mais pedágio nos exigirão. Se pusermos a fronteira dos nossos prazeres num nível lícito, a satisfação será psicologicamente tão grande como a de quem a coloca num nível hedonista. Além disso, libertar-nos-á para nos entregarmos ao amor desinteressado (ágape), sem vivermos escravizados pelas nossas paixões e sem usarmos os outros para satisfazê-las.
            Mulheres, digam aos homens o que lhes agrada e o que não. Se eles forem inteligentes, corresponderão. Pedir ao homem o que agrada a você não é manipula-lo; é ensinar-lhe como deve tratá-la. Só seria manipulação se você pretendesse que ele fizesse algo que não deseja fazer. E se não quer tratá-la como você deseja? Diga-lhe adeus!
            Muitos namorados não chegam a alcançar a intimidade durante o namoro. Estão demasiados ocupados em beijar-se e abraçar-se (entre outras coisas), quando deveriam falar dos profundos sentimentos que lhe dominam o coração.

 Adiar os beijos [**] até o casamento?

*Nota do blog para [*] e [**]: O autor se refere a beijos de afeto, como beijos no rosto e na testa e não a beijos íntimos (vulgarmente chamados de “beijos de língua”), este segundo, como foi demonstrado em outras partes do livro é um tipo de beijo reservado somente aos casados pois é um prelúdio a relação sexual, portanto os namorados não devem chegar a este tipo de intimidade, nesta parte do texto é mostrado como os beijos de afeto ajudam a harmonia do casal. Veja o que o Pe. Thomas Morrow diz a respeito neste link: “Sobre os beijos no tempo de namoro

Que dizer de pessoas como Joshua Harris, que decidiu não beijar a noiva antes de estarem casados? Ou de Elisabeth Elliot e Steve Word, que deram o primeiro beijo quando o namoro chegou ao compromisso? Essas atitudes são o melhor caminho?
Posso compreender o motivo de semelhantes decisões, já que muitas coisas boas como o carinho, foram sexualizadas e exploradas. Mas penso que são atitudes exageradas. É necessário reabilitar o afeto e colocá-lo em seu lugar, purificado de conotações sexuais. O carinho puro e nobre é algo maravilhoso. Quando uns namorados adiam os beijos, mesmo os mais inocentes, até o casamento ou o noivado, podem querer dizer implicitamente que as demonstrações de afeto não passam de uma forma moderada de exploração sexual. Não o são. São uma maravilhosa expressão de amor e satisfazem uma necessidade humana.
O que acontece com as expressões de carinho em público? Aconselho que sejam muito poucas e só nos lugares oportunos: passear de mãos dadas, beijos breves de saudação ou de despedida, um abraço no aeroporto, pegar na mão durante um jantar. Mas as carícias insistentes e os beijos repetidos pedem intimidade, privacidade. Comportar-se educadamente tem por objetivo, antes de mais nada, não incomodar os outros. Não há quem não se sinta realmente incomodado quando vê que um homem e uma mulher são incapazes de afastar as mãos um do outro.
O carinho, como escreveu Karol Wojtyla em Amor e Responsabilidade, não tem por objetivo o prazer, mas a "sensação de proximidade". Compartilhar o carinho "tem o poder de livrar o amor dos diversos perigos implícitos no egoísmo dos sentidos..." "Desde que seja submetido a um profundo controle pessoal, o afeto é um importante elemento do amor".
            Por vezes, uma pessoa descobre que o seu noivo/a está pouco preparado para exteriorizar o seu afeto; custa-lhe abraçar ou acariciar. Outras vezes, essa reticência deve-se ao medo da proximidade sexual, como conseqüência da nossa cultura impregnada de sexo. Ou talvez possa ter origem em ele/a provém de uma família em que as manifestações externas de afeto eram raras. Em qualquer dos casos, eu recomendaria que se encarasse este tema com delicadeza e tato, e se promovesse o hábito de compartilhar um carinho casto. Isto é coisa que se pode aprender, mas pouco a pouco, sem pressão externa.
            Outra causa de timidez nesta matéria pode ser o bloqueio psicológico causado por uma má experiência anterior. Neste caso, para seu próprio bem e da futura família, a pessoa deveria procurar um especialista, se possível cristão, para que a ajudasse a chegar à raiz do problema.
            Não resta dúvida de que o ambiente cultural influi nos modos de manifestar o carinho. Em geral, os latinos, os filipinos e alguns europeus orientais sentem-se bem beijando e abraçando a família e os amigos. Isto não significa que os namorados de outros lugares se satisfaçam com um afeto mínimo. Muitos estudos afirmam que as demonstrações físicas são uma terapia para qualquer pessoa, independente da nacionalidade. [2]

Estes números indicam as notas de roda-pé do livro:

[1] No Céu, como Deus Pai explicava a Santa Catarina de Sena, “a alma sempre Me deseja [a Deus] e Me ama, e não Me deseja em vão: se tem fome, sacia-se, e, saciada, sente fome. Mas estão longe dela o cansaço da saciedade e o sofrimento da fome.” (Santa Catarina de Sena, O Diálogo)

 [2] Com respeito ao carinho com os filhos, Gary Smalley afirma no seu livro The Blessing (A bênção, escrito em coautoria com Jonh Trent, Thomas Nelson, Nashville, Tenesse, 2004, 272 págs) que “uma carícia efusiva pode evitar que uma criança satisfaça essa necessidade em lugares errados”. O próprio Jesus fez as crianças aproximarem-se Dele, e as abraçou e as abençoou impondo-lhes as mãos (Mc 10, 16). João Paulo II chega a afirmar que as crianças tem um “direito especial ao carinho”. Smalley defende também que uma carícia traz benefícios psicológicos, diminui a pressão sanguínea e pode acrescentar dois anos a vida do marido.
            Muitos pais deixam de abraçar ou de beijar suas filhas quando chegam a adolescência. Talvez se deva que, como as filhas vão se tornando mulheres, pensem que não convém dar-lhes demasiadas provas de carinho. Enganam-se: um bom abraço de um pai à sua filha, um abraço casto diz tudo sobre ele. Os psicólogos que estudaram as tristes conseqüências dessas omissões coincidem em aconselhar encarecidamente aos pais que voltem atrás.

Pe. Thomas Morrow – “Namoro Cristão em um mundo supersexualizado” – Ed. Quadrante

Leia as outras partes deste texto acessando-as nestes link’s: Parte 1,Parte 2, Parte 3, Parte 5

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