terça-feira, 26 de março de 2013

Entendendo o amor - 5ª Parte


por Pe. Thomas Morrow 


Transcrição: Blog Mater Dei

Eros
            O quarto dos quatro amores é o eros ou paixão. Significa gostar muito, estar contente com alguém ou com alguma coisa. Às vezes, empregamos a palavra “gostar” para descrever os nossos sentimentos sobre um computador novo, um carrou um uma casa nova. “Gosto!” Na realidade, o que significa é que gostamos, mas não o suficiente para exclamar: “Gostei muitíssimo!” Em inglês, “love” - I love it” - chegou a ser superlativo de “like” - I like it -.
            No namoro, enamorar-se significa encaprichar-se: é uma atração emocional que parece incontrolável, embora não o seja. O papa João Paulo II sublinha-o nas suas palestras sobre a Teologia do Corpo: “Segundo Platão, eros representa a força interior que atrai o homem para todo o bem verdade e beleza...” [1] Assim, no nosso contexto, significa desejar profundamente o bem, a verdade e a beleza do outro. Este é os sentimento mais forte de atração, quase uma experiência mística: é estar “enamorado”.
            Ao contrário do que Freud ensinou erradamente, eros não é um mero desejo sexual, ainda que inclua a atração sexual. Diz respeito primordial à pessoa. Deseja-se possuir o conjunto da pessoa, não somente o corpo: neste sentido, é muito mais poderoso que a atração sexual.
            Qual é o propósito deste amor? O mais provável é que seja como um catalisador do matrimônio, que ajuda os namorados a vencer as dúvidas que pode suscitar o compromisso de um casamento para toda a vida.
            Com efeito, é provavelmente o primeiro aliciante para que as pessoas se casem, ainda que, como demonstram uma e outra vez os apaixonados de Hollywood, não seja o primeiro ingrediente para o êxito de um casamento. Lembro-me de ter ouvido uma atriz, de uns sessenta anos, dizer na televisão acerca do seu quarto casamento: – “Este é o meu autêntico amor. Este casamento durará porque o nosso amor é real”. Poucos anos depois, também este casamento tinha chegado ao fim...
            C.S. Lewis insiste num ponto que deveríamos ter bem presente: se você faz faz do eros um deus, este se converterá num demônio e destruí-lo-á. Eros é uma coisa maravilhosa, admirável, mas é finita; não é Deus. Imita a Deus na medida em que está muito acima de outros prazeres da terra: parece ser um deus, mas não o é. Só Deus é infinito, eterno, Eros não.
            Se você souber como é finito esse amor que imita a divindade, e compreender que não é forçoso entregar-se a ele, evitará muitas desgraças. Mas se entender o seu sentido e o compartilhar com seu cônjuge, será muito doce.
            Em qualquer relação, a paixão debilita-se invariavelmente, e isso por dois motivos. Primeiro, porque está chamada a crescer com o mistério, e o mistério desvanece com a habituação. Segundo, porque, enquanto amor humano, é limitada e tem de ser alimentada e sustentada pelo amor divino.  Se não está divinizada, morrerá como morre tudo que é meramente humano.
            Como se pode mantê-la viva – ainda que não como no dia do casamento – ao longo da vida conjugal? Em primeiro lugar, crescendo em graça e sabedoria, quer dizer, preservando certo mistério na relação. Segundo, pondo em prática o amor divino (ágape). É assim que a paixão, boa em si mesma, pode manter-se viva e a relação conservar um certo fascínio.
            A paixão pode exprimir-se por meio de palavras - “Estou apaixonado por você” - ou de atos. Mas que atos? Atos apaixonados para sentimentos apaixonados? Se aplicarmos este raciocínio a outros sentimentos, seriam necessários atos coléricos a outros sentimentos coléricos (por exemplo, atirando contra a parede uma ou das cadeiras, ou estilhaçando-os os vidros de umas quantas janelas), ou atos de ciúmes para sentimentos ciumentos (talvez um soco na boca). Naturalmente, os sentimentos devem ser manifestados, mas de um modo construtivo e sensato.
            Os atos apaixonados e a sua consequência natural – a relação sexual – são algo muito mais profundo que um sentimento. Simbolizam entrega, exclusividade, uma doação total, um amor tão rico que deseje dar lugar a uma nova vida com a qual compartilhar o amor.
            A manifestação física mais honesta da paixão é o carinho romântico. O modo de acariciar-se, de abraçar-se, de beijar-se, exprime uma pura gratidão e um deleite com a felicidade do outro, que me deu semelhante felicidade. Este é o modo cristão de exprimir o eros, despojado do egoísmo que mata o amor e divinizado pelo amor divino. E esta manifestação do eros, por estar divinizada, fará com que perdure.
            Na Eucaristia, vemos realizada a promessa contida no impulso natural da paixão: a de consumir o amado. Ao recebermos a Eucaristia, consumimos nosso Deus como Ele nos consome mais mais dentro da sua vida da graça, enquanto sinal de amor consumado que nos espera no seu Reino. A paixão é, pois, um sinal de fogo irreprimível com todo que todo o nosso ser arderá ante a mera visão de Deus.
            Por certo, a palavra eros não aparece no Novo Testamento, mas no Cântico do Cânticos, do Antigo Testamento. É a história do amor apaixonado entre Deus e o seu povo:

“Tu me fazes delirar, minha irmã, minha esposa, tu me fazes delirar com um só dos teus olhares, com um só colar do teu pescoço.
Como são deliciosas as tuas carícias, minha irmã, minha esposa! Mais deliciosos que o vinho são teus amores, e o odor dos teus perfumes excede o de todos os aromas!
Teus lábios, ó esposa, destilam o mel; há mel e leite sob a tua língua. O perfume de tuas vestes é como o perfume do Líbano.
És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente fechada, uma fonte selada.
Teus rebentos são como um bosque de romãs com frutos deliciosos; com ligústica e nardo.”    Cântico dos Cânticos 4,9-13

            Como costumava dizer Fulton J.Sheen, “os homens prometem o que só Deus pode dar. E toda mulher promete o que só Deus pode dar”. Só quando uma pessoa compreende isto poderá fruir do eros sem converter-se em seu escravos.
            E, além disso, todos podemos conceber no coração um amor apaixonado por Deus aqui na terra. Ainda que seja uma ideia alheia à maioria dos cristãos, Santo Agostinho exprimia-se assim: “Tarde te amei, formosura tão antiga e tão nova, tarde te amei. Acontece que Tu estavas dentro de mim e eu fora. Andava á tua procura por fora e, como um monstro de fealdade, lançava-me sobre a beleza das criaturas. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. Mantinham-me prisioneiro longe de ti aquelas coisas que, se não existissem em Ti, não existiriam. Chamaste-me, gritaste-me e rompeste a minha surdez. Relampejaste, resplandeceste e o teu resplendor dissipou a minha cegueira. Exalaste os teus perfumes, respirei fundo e suspiro por Ti. Saboreei-te, e morro de fome e sede. Tocaste-me, e ardo de desejos da tua paz.” [2]

Em resumo
            Cada um dos quatro tipos de amor tem o seu lugar nas nossas vidas. Os quatro são bons no lugar adequado. Só o amor ágape é divino e vivifica todos os outros. Os três amores humanos murcham e morrem no egoísmo se não estão animados pelo amor divino. Se, pela graça, o amor ágape se converte no tema dominante da vida, acontecem duas coisas. Em primeiro lugar, será capaz de unir-se a Deus e com os outros no amor. Nenhum prazer da terra poderá superar essas boas relações. Nenhuma outra coisa nos proporcionará essa felicidade perene, no namoro, no casamento ou no Céu.


Estes números referem-se as notas de roda-pé do livro:

[1] João Paulo II, Bem-aventurados os puros de coração. Isto opõe-se a ideia atual, de conotação freudiana, de que o amor não passa de mera atração sexual.

[2] Santo Agostinho, Confissões, 10,38

Pe. Thomas Morrow – “Namoro Cristão em um mundo supersexualizado” – Ed. Quadrante

Leia as outras partes deste texto acessando-as nestes link’s: Parte 1,Parte 2, Parte 3, Parte 4

Recomendamos muitíssimo a leitura deste livro, como você percebeu, este conteúdo foi de grande ajuda para a sua caminhada de fé, principalmente nas questões sobre namoro santo e matrimônio, você pode adquirir este livro clicando neste link: Namoro Cristão em um mundo supersexualizado.
Se este conteúdo lhe ajudou, compartilhe-o com aqueles que você quer bem, ajude outros a ver a beleza e os frutos de felicidade que nascem na vida de quem vive um autêntico namoro cristão

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...